O primeiro discute–se assim. – Parece que a parcimónia não é um vício.
1. – Pois, a virtude é moderadora tanto das grandes como das pequenas coisas; por isso tanto os liberais como os magníficos praticam certos atos, de pequena importância. Ora, a magnificência é uma virtude. Logo, do mesmo modo, a parcimónia é, antes, uma virtude, que um vício.
2. Demais. – O Filósofo diz que a exatidão racional em fazer as contas dos gastos é sinal de parcimónia. Ora, a exatidão do raciocínio parece louvável, porque o bem do homem consiste em estar de acordo com a razão, segundo Dionísio. Logo, a parcimônia não é um vicio.
3. Demais. – O Filósofo diz que o parcimonioso gasta o seu dinheiro com tristeza. Ora, isto é próprio da avareza ou da liberalidade. Logo, a parcimónia não é um vício distinto dos outros.
Mas, em contrário, o Filósofo considera a parcimónia um vicio especial oposto à magnificência.
SOLUÇÃO. – Como dissemos, os atos morais se especificam pelo seu fim; por isso, no mais das vezes, tiram dele a sua denominação Ora, chama–se parcimonioso quem só pensa em praticar atos de pequena importância. Ora, pequeno e grande, segundo o Filósofo, tem significação relativa. Por onde, quando dizemos que o parcimonioso só visa a prática de atos de pequena importância; isso o entendemos relativamente ao gênero de obras que pratica. Nas quais o pequeno e o grande podem ser considerados a dupla luz: relativamente ao ato a praticar e relativamente à despesa. Ora, o magnífico visa principalmente a grandeza da obra; em segundo lugar, a grandeza dos gastos, que não evita, para praticar atos grandiosos. Donde o dizer o Filósofo, que o magnífico, com despesas iguais, faz obras mais magníficas. O parcimonioso, ao contrário, visa principalmente a parcimónia do gasto; e por isso o Filósofo diz que busca o modo de despender o mínimo. Mas, por consequência, visa a parcimónia da obra que não rejeita, contanto que faça despesas pequenas. Por isso, diz o Filósofo, no mesmo lugar, que o parcimonioso, embora despendendo muito, com a vontade que tem de não fazer grandes despesas, perde o bem que resultaria de uma obra que teria feito com magnificência. Por onde é claro, que o parcimonioso se afasta da proporção exigida pela razão entre as despesas e as obras. Ora, a falta do que a razão exige implica a existência do vício. Portanto, é claro que a parcimónia é um vício.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A virtude modera as coisas pequenas de acordo com a regra da razão, da qual se afasta o parcimonioso, como se disse. Pois, não se chama parcimonioso quem modera as coisas pequenas, mas quem, ao moderar, tanto as grandes como as pequenas, se afasta da regra da razão. E, portanto a parcimónia é por natureza um vício.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Como diz o filósofo, o temor faz os consiliativos. Por isso, o parcimonioso se põe a fazer contas com exatidões: pois teme, sem razão, consumir os seus bens, mesmo em parte mínima. O que não é louvável, mas, vicioso e digno de censura; porque não dirige o seu afeto pela razão, mas, ao contrário, usa dela para desordenar o seu afeto.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Assim como o magnífico convém com o liberal por gastar o seu dinheiro facilmente e com prazer, assim também o parcimonioso convém com o iliberal ou avarento em fazer as suas despesas com tristeza e tardança. Mas, dele difere em que o iliberal assim procede relativamente a despesas comuns; ao passo que o parcimonioso, relativamente aos grandes gastos, mais difíceis de se fazerem. Por onde, menor vício é a parcimônia do que a iliberalidade. Por isso, diz o Filósofo que, embora a parcimónia e o vício oposto constituam malícias, contudo não causam a desonra; pois, não são nocivos ao próximo, nem encerram grande torpeza.