O segundo discute–se assim. – Parece que a pusilanimidade não se opõe à magnanimidade.
1. – Pois, diz o Filósofo, que o pusilânime se ignora a si mesmo; pois, desejaria os bens de que é digno se os conhecesse. Ora, a ignorância de si parece opor–se à prudência. Logo, a pusilanimidade opõe–se à prudência.
2. Demais. – Como se lê no Evangelho, o Senhor, ao servo, que por pusilanimidade se negou a empregar o dinheiro, chama–lhe mau e preguiçoso. E o Filósofo também diz que os pusilânimes são considerados preguiçosos. Ora, a preguiça se opõe à solicitude, que é um ato de prudência, como estabelecemos. Logo, a pusilanimidade não se opõe à magnanimidade.
3. Demais. – A pusilanimidade parece proceder do temor desordenado; donde o dizer a Escritura: Dizei aos pusilânimes: Tomai ânimo e não temais. E parece proceder também da ira desordenada, segundo o Apóstolo: Pois, não provoqueis a indignação a vossos filhos, para que se não façam de ânimo apoucado. Ora, o desordenado do temor se opõe à coragem; e o da ira, à mansidão. Logo, a pusilanimidade não se opõe à magnanimidade.
4. Demais. – Um vício, que se opõe a uma virtude, é tanto mais grave quanto mais for dela dissemelhante. Ora, a pusilanimidade difere, mais que a presunção, da magnanimidade. Logo, se a pusilanimidade se opusesse à magnanimidade, seria por consequência um pecado mais grave que a presunção; o que vai contra aquilo da Escritura: Ó perversíssima presunção! Onde tomaste tu a tua origem? Logo, a pusilanimidade não se opõe a magnanimidade.
Mas, em contrário, a pusilanimidade e a magnanimidade diferem entre si como difere a grandeza do apoucamento de ânimo, conforme os próprios nomes o mostram. Ora, grande e pequeno se opõem. Logo, a pusilanimidade se opõe à magnanimidade.
SOLUÇÃO – A pusilanimidade pode ser considerada a tríplice luz. – Primeiro em si mesma. E então é claro que, na sua essência própria, se opõe à magnanimidade, da qual difere pelas diferenças de grandeza e pequenez, relativamente ao mesmo objeto; pois, assim como o magnânimo, por grandeza de alma, busca o que é grande, assim o pusilânime por apoucamento de alma, retrai–se dessas mesmas grandezas. – Segundo, pode ser ela considerada relativamente à sua causa, que, relativamente ao intelecto, é a ignorância da condição própria; e relativamente ao apetite, é o temor de não poder alcançar o que julga, falsamente, exceder a capacidade Terceiro, pode ser considerada no seu efeito, que consiste na abstenção das coisas grandes, de que é digno. – Mas, como já dissemos, a oposição entre o vício e a virtude se funda mais na espécie própria do que na causa ou no efeito deles. Por onde, a pusilanimidade se opõe diretamente à magnanimidade.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A objeção colhe quando a pusilanimidade é considerada relativamente à causa que tem no intelecto. E contudo não se pode propriamente dizer que se oponha à prudência, mesmo considerada na sua causa; porque a: referida ignorância não procede da insipiência mas, antes, da preguiça de examinarmos as nossas próprias faculdades, como diz Aristóteles, ou de executarmos o que está em a nossa capacidade.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A objecção colhe se considerarmos a pusilanimidade relativamente ao seu efeito.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A objeção colhe, relativamente à causa. Contudo, nem sempre o temor, que causa a pusilanimidade, é temor de um perigo mortal. Por isso, não se opõe, necessariamente à coragem. – Quanto à ira, o seu movimento, que nos leva, por natureza, a exercer a vingança, não causa a pusilanimidade, que nos abate a alma, mas, antes, a exalta. Mas, pelas suas causas, a ira induz à pusilanimidade; essas causas são as injúrias proferidas, que abatem o ânimo de quem as sofre.
RESPOSTA À QUARTA. – A pusilanimidade é, especificamente, mais grave pecado que a presunção; pois, ela arrasta o homem do bem, o que é péssimo, como diz Aristóteles. Mas, dizemos que a presunção é péssima, em razão da soberba, de que procede.