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Art. 1. – Se o temor é pecado.

O primeiro discute–se assim. – Parece que o temor não é pecado.

1. – Pois, o temor é uma paixão, como se estabeleceu. Ora, as paixões não são causas de sermos louvados nem censurados, como está claro em Aristóteles. Logo, sendo todo pecado censurável, parece que o temor não é pecado.

2. Demais. – Nada do que a lei divina manda é pecado, porque a lei do Senhor é imaculada, no dizer da Escritura: Ora, o temor é ordenado pela lei de Deus, como diz o Apóstolo: Servos, obedecei a vossos senhores temporais com temor e tremor. Logo, o temor não é pecado.

3. Demais. – Nada do que é natural ao homem é pecado, porque o pecado é contrário à natureza, no dizer de Damasceno. Ora, temer é natural ao homem; e por isso ensina o Filósofo, que é louco, ou não tem o senso da dor, quem nada teme – nem terremotos nem inundações. Logo o temor não é pecado.

Mas, em contrário, diz o Senhor: Não temais aos que matam o corpo. E noutro lugar: Não tenhas medo deles nem temas as suas palavras.

SOLUÇÃO. – Constitui pecado, nos atos humanos, o que é desordenado; pois, o ato humano bom supõe uma certa ordem, como do sobredito resulta. Ora, nesta matéria, a ordem devida exige a submissão do apetite ao regime da razão. Ora, esta diz que devemos praticar certos atos e evitar outros; e dentre os que devemos evitar, uns devem sê–lo mais que outros. E semelhantemente, dos que devemos praticar, uns devem sê–Io mais que outros; e quanto maior for a obrigação de praticarmos um ato bom, tanto maior será a obrigação de evitarmos o seu contrário. Por isso, a razão nos dita que certos bens devemos pratica–los de preferência a evitarmos os males opostos. Portanto, quando o apetite foge do que a razão manda sofrer, para não abandonar um bem da natureza superior, o temor é desordenado e tem a natureza de pecado. Mas, quando o apetite foge, por temor, o que a razão exigiria que ele fugisse, então ele não é desordenado, nem há pecado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O temor em si mesmo considerado, leva–nos, por natureza, e geralmente, a fugir. Por onde, a esta luz, não implica naturalmente nem o bem nem o mal. E o mesmo devemos dizer, de qualquer outra paixão. Por isso, ensina o Filósofo, que as paixões não são em si mesmas nem louváveis nem censuráveis; assim, não são dignos de louvor nem de censura os que se encolerizam ou temem; mas os que cedem a essas paixões, ordenada ou desordenadamente.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O temor a que o Apóstolo concita é consentâneo com a razão; assim, leva o escravo a temer não deixe de prestar os serviços, que deve ao senhor.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os males a que não podemos resistir e cujo sofrimento nenhum bem nos traz a razão nos diz, que devemos evitá–los. Logo, temê–los não é pecado.

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