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Art. 1 – Se a avareza é pecado.

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O primeiro discute–se assim. – Parece que a avareza não é pecado.

1. – Pois, a avareza significa como que a avidez do dinheiro (aeris aviditas), por consistir no desejo dele, que se pode entender como abrangendo todos Os bens externos. Ora, desejar tais bens não é pecado. Pois, o homem naturalmente os deseja, quer por lhe estarem naturalmente sujeitos, quer por lhe conservarem li vida, chamando–se por isso substância do homem. Logo, a avareza não é pecado.

2. Demais. – Todo pecado ou é contra Deus, ou contra o próximo ou contra nós mesmos, como se estabeleceu. Ora, a avareza não é propriamente pecado contra Deus, pois, não se opõe nem à religião, nem às virtudes teologais, que para ele nos ordenam. Nem é pecado contra nós mesmo, que propriamente pertenceria à gula e à luxúria, da qual o Apóstolo diz: O que comete fornicação peca contra o seu próprio corpo. Do mesmo modo, não o é contra o próximo pois, conservando o que é nosso, a ninguém prejudicamos. Logo, a avareza não é pecado.

3. Demais. – O que existe naturalmente não é pecado. Ora, a avareza naturalmente resulta da velhice e de qualquer outra deficiência, como diz o Filósofo. Logo, a avareza não é pecado.

Mas, em contrário, o Apóstolo: Sejam os vossos costumes sem avareza. contentando–vos com as coisas presentes.

SOLUÇÃO. – Sempre que o bem consiste numa determinada medida, necessariamente o excesso ou o defeito nessa medida provoca o mal. Ora, de tudo o que visa um fim, o bem consiste numa medida determinada; pois, por força, os meios hão de ser proporcionados ao fim, como, por exemplo, o remédio, à saúde, conforme o Filósofo. Ora, os bens externos são, por natureza, bens úteis, em relação ao fim, segundo dissemos. Por onde e necessariamente, o bem do homem, em relação a eles, há de consistir· numa certa medida; isto é, enquanto, por uma medida determinada, ele busca as riquezas externas, como lhe sendo necessárias à vida, segundo a sua condição. Portanto, no excesso dessa medida consiste o pecado; isto é, quando buscamos adquiri–las ou conservá–las sem atendermos ao modo conveniente. Ora, proceder desse modo constitui a avareza, na sua essência, que é definida: o amor imoderado de possuir. Por onde é claro que a avareza é pecado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÁO. – O desejo das coisas externas é natural ao homem, como meio que o conduz ao seu fim. Portanto, esse desejo não é vicioso na medida em que está compreendido na regra, deduzida da ideia do fim. Ora, a avareza ultrapassa essa regra. Logo, é pecado.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A avareza pode implicar o desejo das coisas externas, de dois modos. – Imediatamente, no concernente à aquisição ou conservação delas, quando as adquirimos ou conservamos sem observar a regra devida. E então é diretamente pecado contra o próximo; porque, não podendo os bens temporais ser possuídos simultaneamente por muitos, não pode um superabundar de riquezas externas sem que outro tenha falta deles. – De outro modo, pode implicar falta de moderação relativamente aos nossos afetos internos, concernentes às riquezas; por exemplo, amando–as, desejando–as e com elas nos deleitando imoderadamente. E então a avareza é um pecado contra nos mesmos, porque, assim procedendo, desordenamos os nossos afetos, embora não ponhamos desordem em nosso corpo, como o fazemos com a prática dos vícios carnais. E por consequência, é um pecado contra Deus, como o são todos os pecados mortais, fazendo–nos desprezar o bem eterno, pelos temporais.

RESPOSTA À TERCEIRA. – As inclinações naturais devem ser reguladas pela razão, que tem o principado, em a natureza humana. Por onde, embora os velhos, por deficiência natural, busquem. mais avidamente um ponto de apoio nas causas externas, assim como todos os necessitados buscam suprir às suas necessidades, nem por isso ficam escusados do pecado, se não levarem em conta a devida medida racional relativa a essas riquezas.

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