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Art. 1 – Se a ingratidão sempre é pecado.

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O primeiro discute–se assim. – Parece que a ingratidão nem sempre é pecado.

1. – Pois, diz Séneca: Ingrato é quem não paga o benefício. Ora, às vezes não poderíamos retribuir o benefício senão pecando; por exemplo, auxiliando outrem a pecar. Ora, como abstermo–nos do pecado não é pecado, parece que a ingratidão nem sempre é pecado.

2. Demais. – Todo pecado depende do pecador; pois, segundo Agostinho, ninguém peca cometendo uma ação que não podia evitar. Ora, às vezes não depende do pecador evitar a ingratidão; por. exemplo, quando não tem com que retribuir. E também o esquecimento não depende de nós, embora para Séneca, quem esquece é de todo o mais ingrato. Logo, a ingratidão nem sempre é pecado.

3. Demais. – Parece que não peca quem não quer dever nada, conforme às palavras do Apóstolo: A ninguém devais causa alguma. Oro, quem deve contrariado é ingrato, diz Séneca. Logo, nem sempre a ingratidão é pecado.

Mas, em contrário, o Apóstolo enumera a ingratidão entre os pecados quando diz: Desobedientes a seus pais, ingratos, malvados.

SOLUÇÃO. – Como dissemos o débito da gratidão é um dever da honorabilidade, exigido pela virtude. Ora, um ato é pecaminoso quando repugna à virtude. Por onde é manifesto que a ingratidão é pecado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A gratidão supõe um benefício. Ora, quem ajuda outrem a pecar não lhe confere nenhum benefício, mas, antes, causa–lhe dano. Logo, não lhe é devida qualquer recompensa, salvo se se enganou, por ter ajudado a prática do mal, quando tinha a intenção de auxiliar a prática de um ato bom. Mas, nesse caso, não lhe é devida nenhuma retribuição a quem ajudou a pecar, porque seria retribuir não o bem, mas, o mal; o que é contrário à gratidão.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Ninguém pode escusar–se de ingratidão sob pretexto de não ter com que retribuir o benefício, pois, para fazê–lo basta a boa vontade, como dissemos. Quanto ao esquecimento do benefício, ele implica ingratidão; não a que provém de deficiência natural, independente da vontade, mas, a que procede da negligência. Pois, como diz Séneca, parece que não pensou muito em pagar o benefício aquele que se deixou invadir do esquecimento.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O dever da gratidão resulta do dever de amar, do qual ninguém deve querer isentar–se. Por onde, quem deve a gratidão, contrariado, manifesta falta de amor para com quem lhe beneficiou.

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