O segundo discute–se assim. – Parece que a honra não é propriamente devida aos superiores.
1. – Pois, o anjo é superior a qualquer homem deste mundo, conforme diz o Evangelho: O que é menor no reino. dos céus é maior do que João Baptista. Ora, um anjo proibiu a João de o adorar. Logo, aos superiores não é devida a honra.
2. Demais. – A honra é devida a outrem como testemunho da sua virtude, segundo se disse. Ora, às vezes acontece que os superiores não são virtuosos. Logo, não se lhes deve honra, como não se deve aos demônios, que contudo são de natureza superior à nossa.
3. Demais. – A Escritura diz: Adiantai–vos em honrar uns aos outros. E noutro lugar: Honrai a todos. Ora, esses preceitos não poderíamos observá–los se devessemos honrar só aos superiores. Logo, a honra, propriamente falando, não a devemos só aos superiores.
4. Demais. – A Escritura diz, que Tobias levava dez talentos de prata daqueles com que tinha sido presenteado pelo rei. E noutra parte se lê que Assuero honrou a Mardoqueu e na presença dele mandou proclamar: De tal honra é digno aquele a quem o rei quiser honrar. Logo, a honra também se tributa aos inferiores. – E assim não parece que ela seja propriamente devida aos superiores.
Mas, em contrário, diz o Filósofo, que a honra é devida aos melhores.
SOLUÇÃO. – Como dissemos, a honra não é mais do que o testemunho da excelência da bondade de alguém. Ora, essa excelência pode ser considerada não só relativamente a quem honra, e que seja mais excelente do que o honrado, mas também em si mesma, ou relativamente a outros, e, então é sempre devida a alguém por alguma excelência ou superioridade. Pois, não é necessário que o honrado seja mais excelente que quem o honra, mas, que o seja, talvez, do que certos outros; ou mesmo do que quem o honra, relativa e não, absolutamente.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O anjo não proibiu João tributar–lhe qualquer honra, mas só a da adoração latrêutica, devida unicamente a Deus; ou também a de dulia, para revelar a mesma dignidade de João, pela qual Cristo o equiparara aos próprios anjos, pela esperança da filiação divina na glória celeste. Por isso, não queria o anjo ser honrado por ele como se lhe fosse superior.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Os prelados maus não são honrados por causa da excelência da virtude própria; mas, pela da sua dignidade, enquanto ministros de Deus. E também porque neles é honrada toda a comunidade, de que são superiores. Quanto aos demônios são irrevogavelmente maus e devem ser tidos antes como inimigos, do que honrados.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Em qualquer homem podemos descobrir alguma qualidade pela qual o consideremos nosso superior, conforme aquilo do Apóstolo: Tendo cada um aos outros por superiores. E assim sendo, todos devem prevenir–se uns aos outros pela honra.
RESPOSTA À QUARTA. – Às vezes os particulares são honrados pelos reis, não por serem superiores a estes em dignidade, mas, por terem alguma excelente virtude. E neste sentido é que Tobias e Mardoqueu receberam honra de seus reis.