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Art. 4 – Se trazer palavras sagradas escritas e penduradas ao pescoço é ilícito.

O quarto discute–se assim. – Parece que trazer palavras sagradas escritas e penduradas ao pescoço não é ilícito.

1. – Pois, as palavras divinas não tem maior eficácia escritas do que faladas. Ora, é lícito proferir certas palavras, como as do Padre Nosso, da Ave–Maria, ou qualquer invocação do nome de Deus, para a consecução de determinados efeitos, por exemplo, para curar um doente; conforme ao dito da Escritura: Expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão as serpentes. Logo, parece lícito trazer dependuradas ao pescoço palavras sagradas escritas para remédio da saúde ou de qualquer malefício.

2. Demais. – As palavras sagradas não agem menos sobre o corpo do homem que sobre o das serpentes e dos outros animais. Ora, os encantamentos têem certa eficácia para conter aquelas ou curar a estas. Por isso diz a Escritura: O furor deles é semelhante ao da serpente, como o do áspide surdo e que fecha os seus ouvidos, que não ouvirá a voz dos encantadores nem a do mago que encanta segundo a sua arte. Logo, é lícito trazer dependuradas palavras sagradas, como remédio.

3. Demais. – A palavra de Deus não encerra menor santidade que as dos santos; por isso diz Agostinho que a palavra de Deus não é menos que o corpo de Cristo. Ora, podemos trazer dependuradas ao pescoço, ou de qualquer outro modo, as relíquias dos santos, como proteção. Logo, pela mesma razão, é nos lícito pronunciar como proteção ou trazer por escrito palavras da Sagrada Escritura.

Mas, em contrário, Crisóstomo: Certos trazem ao pescoço alguma passagem escrita do Evangelho. Ora, não se lê e não se ouve todos os dias o Evangelho na Igreja? Mas, quem nada aproveita em ouvir as palavras evangélicas como pode salvar–se com elas atadas ao pescoço? Demais, onde a virtude do Evangelho? Na forma das letras ou na inteligência do texto? Se na forma, fazemos bem em trazê–las ao pescoço penduradas. Se na compreensão, mais aproveitam gravadas no coração do que suspensas ao colo.

SOLUÇÃO. – De duas coisas devemos nos acautelar, quanto às fórmulas de encantação ou as palavras escritas suspensas no pescoço.

Primeiro, em saber que palavras se proferem ou estão escritas. Se contiverem invocações dos demônios manifestamente constituem superstição ilícita. – E também devemos nos acautelar delas, e examinar se não tem sentido. oculto, encerrando algo de ilícito. Por isso diz Crisóstomo: A exemplo dos Fariseus, que ostentavam longas fímbrias, agora muitos inventam nomes hebraicos, dão–nos aos anjos, transcrevem–nos e dependuram ao pescoço, de modo a causar desconfiança aos que não compreendem. – E também devemos cuidar que não contenham alguma falsidade. Porque então o efeito obtido não podia ser atribuído a Deus, que não é testemunha da falsidade.

Em segundo lugar, devemos cuidar não se misturem com as palavras sagradas expressões vãs; por exemplo, certos caracteres inscritos, além do sinal da cruz. Ou que a esperança não esteja fundada na modo de escrever ou de dependurar, ou em qualquer prática vã como essas, ofensivas da reverência devida a Deus. Pois, seriam consideradas supersticiosas.

Mas, de outro modo, é lícito recorrer a Deus. Por isso, uma decretal diz: Quando se empregam plantas medicinais, não é lícito acrescentar–lhes observâncias nem encantamentos, senão acompanhados de palavras divinas ou da oração Dominical, para que seja honrado somente o Criador Senhor de todas as coisas.

RESPOSTA À PRIMEIRA OOBJEÇÃO. – Proferir palavras sagradas ou invocar o nome divino, só com a intenção de reverenciar a Deus, cujo auxílio se espera, será lícito; mas será ilícito fazê–La em dependência de alguma vã observância.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Não é ilícito recorrer às encantações de serpentes ou de quaisquer animais, atendendo–se só às palavras sagradas e à Virtude divina. Mas às vezes tais encantações andam de envolta com observâncias ilícitas e produzem efeito por influência do demónio. Sobretudo tratando–se das serpentes, que foram o primeiro instrumento do demônio para seduzir o homem. Por isso diz a Glosa, no mesmo lugar: Notemos que a Escritura não aprova todas as comparações de que usa; como o mostra o caso do juiz iníquo que apenas deu ouvidos à viúva do Evangelho.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O mesmo se deve dizer daqueles que trazem relíquias. Não será ilícito fazê–lo por confiança em Deus e nos santos a que elas pertencem. Mas haveria superstição ilícita se se lhes acrescentasse alguma observância vã, como a de ser o vaso triangular, ou algo de semelhante, incompatível com a reverência devida a Deus e aos santos.

RESPOSTA À QUARTA. – Crisóstomo se refere ao caso de termos a intenção dirigida mais para as figuras escritas do que para a compreensão das palavras.

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