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Art. 3 – Se podemos determinar várias espécies de adivinhação.

O terceiro discute–se assim. – Parece que não podemos determinar várias espécies de adivinhação.

1. – Pois pecados da mesma natureza parece que não são de espécies diversas. Ora, todas as adivinhações são pecados da mesma natureza, por recorrerem a pactos com o demônio, para prever o futuro. Logo, não há várias espécies de adivinhação.

2. Demais. – Os atos humanos se especificam pelo fim, como se estabeleceu. Ora, toda adivinhação se ordena a um fim único, a predição do futuro. Logo, todas as adivinhações são da mesma espécie.

3. Demais. – Os sinais externos diversificam as espécies de pecado; assim, detrair a outrem por palavras, por escrito ou por um gesto são pecados da mesma espécie. Ora, parece que as adivinhações não diferem senão pelos diversos sinais externos, dos quais deduzimos o conhecimento do futuro. Logo, não há várias espécies de adivinhação.

Mas, em contrário, Isidoro enumera diversas espécies de adivinhação.

SOLUÇÃO. – Como já dissemos toda adivinhação recorre, para predizer os acontecimentos futuros, a algum conselho ou auxilio dos demônios, ou expressamente implorado, ou, fora da intenção humana, por ingerência oculta do demônio, para prenunciar certos futuros desconhecidos dos homens, e que estes só poderiam alcançar pelos modos já referidos na Primeira Parte. Quando expressamente invocados, os demônios costumam predizer o futuro de muitos modos. – Ora, por meio de aparições prestigiosas, manifestando–se aos olhos e aos ouvidos dos homens, para prenunciar o futuro. E esta espécie, de adivinhação se chama pressagio porque os nossos olhos são atingidos de leve (praestringuntur). – Ora, por meio dos sonhos; e esta espécie se chama adivinhação dos sonhos. ­ Outras vezes, pela aparição e locução de certos mortos. E esta espécie se chama necromancia porque, como diz Isidoro, em grego YExp6, significa morto, e mánteia adivinhação; pois, os mortos ressuscitados, por meio de certos encantamentos e do sangue derramado, parece que adivinham e respondem às perguntas. – Outras vezes ainda, os demônios predizem o futuro por meio dos vivos, como é o caso dos possessos. E esta é a adivinhação pelos pitões, assim chamados, segundo explica Isidoro, por causa de Apolo Pitico, considerado o autor da adivinhação: – Outras vezes enfim, predizem o futuro por meio de certas figuras ou sinais, que aparecem nas coisas inanimadas. E então, se elas aparecem nalgum corpo terrestre, como a madeira, o ferro ou a pedra polida, essa espécie de adivinhação se chama qeomancia; se na água, hidromancio; se no ar, aeromancia; se no fogo, piromancia; se enfim, nas vísceras dos animais imolados nos altares dos demônios, aruspicio. Quanto à adivinhação, feita sem expressamente invocar os demônios, ela se divide em dois gêneros.

O primeiro quando, para prever o futuro, observamos a disposição de certas coisas, ­ Assim, os que procuram desvendar o futuro, observando a posição e o movimento dos astros, chamam–se astrólogos ou geneáticos, por atentarem para os dias natalícios. – Se levarem em consideração os movimentos ou as vozes das aves ou de quaisquer animais; ou o espirro das pessoas, ou as palpitações dos membros, praticam o que geralmente se chama augúrio, palavra derivada do garrir das aves, como o auspício, da inspeção das aves; sendo aque1e feito pelos ouvidos e este, pelos olhos, porque os auspícios se praticam sobretudo sobre as aves. – Quando porém a atenção é dirigida para as palavras pronunciadas intencionalmente por uma pessoa, e de que se faz aplicação ao futuro que se quer conhecer, chama–se a isso agouro. E, como diz Valério Máximo, a observação dos agouros tem por algum lado contato com a religião. Pois, segundo se crê, não foi um acontecimento fortuito, mas a divina providência, que levou, quando os Romanos deliberavam para saber se deviam transferir–se para outro lugar, um certo centurião a exclamar, por acaso, nesse mesmo tempo: Signífero, dá um sinal e aqui otimamente permaneceremos. E ao ouvirem essa exclamação, os Romanos a tomaram como agouro e abandonaram a deliberação sobre a mudança de lugar. – Outra espécie de adivinhação consiste em observar as disposições da figura de certos corpos, que nos ferem a vista. Assim, a adivinhação que procura interpretar as linhas da mão se chama quiromancia, que é como quem diz adivinhação pelas mãos, pois cheir em grego significa mão. A adivinhação fundada em certos sinais manifestados nas espáduas de um animal se chama espatulimancia .

No segundo gênero de adivinhação, que não invoca expressamente os demônios, está a que observa o resultado de certos atos praticados com o fito de descobrir o que está oculto. E isso, quer pelo prolongamento dos pontos, o que se inclui na geomancia; quer pela observação das figuras provenientes do chumbo liquefeito atirado na água; quer por meio da fôlha escrita ou não que alguém tirou, dentre muitas outras, que estavam escondidas; quer ainda vendo quem tirou a maior ou menor, dentre muitas varinhas desiguais que lhe ofereceram; ou quem ganhou mais pontos, no jogo dos dados; ou ainda lendo o que está escrito num livro aberto ao acaso. Ao que tudo se dá o nome de sortes.

Assim, pois, é claro que há três gêneros de adivinhação. O primeiro, praticado pelos necromontes, faz invocação manifesta dos demônios. O segundo, exercido pelos âugures, observa a disposição ou o movimento das coisas. O terceiro o das sortes consiste em recorrermos a práticas que nos revelem as coisas ocultas. Mas, como resulta do que dissemos cada um destes gêneros inclui muitas espécies.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Todas as adivinhações referidas constituem pecados da mesma natureza, genericamente, mas não, especificamente. Pois, muito mais grave é invocar os demônios, que fazer certas práticas, que provoquem a ingerência deles.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O fim último donde se deduz a natureza genérica da adivinhação é o conhecimento das coisas futuras ou ocultas. Mas, distinguem–se diversas espécies dela conforme ao seus objetos próprios. ou a suas matérias, isto é, conforme às diversas circunstâncias em que se busca o conhecimento das coisas ocultas.

RESPOSTA À TERCEIRA. – As causas que os adivinhos consideram eles as tem não como sinais expressivos do seu pensamento, como no caso da detração; mas, como princípios de conhecimento. Ora, é manifesto que a diversidade de princípios, diversifica a espécie de conhecimento, mesmo em se tratando das ciências demonstrativas.

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