Skip to content

Art. 1 – Se a adivinhação é pecado.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a adivinhação não é pecado.

1. – Pois, a adivinhação é assim chamada por ter algo de divino. Ora, o divino leva antes à santidade que ao pecado. Logo, parece que a adivinhação não é pecado.

2. Demais. – Agostinho diz: Quem ousará afirmar que aprender é um mal? E em seguida: Afirmo que de nenhum modo a inteligência pode ser um mal. Ora, há certas artes divinatórias, como se vê no Filósofo. E demais a própria adivinhação implica uma certa inteligência da verdade. Logo, parece que a adivinhação não é pecado.

3. Demais. – Nenhuma inclinação natural tem por objeto o mal, porque a natureza só inclina ao que lhe é semelhante. Ora, os homem, tem a inclinação natural para desvendar os acontecimentos futuros, e nisso consiste a adivinhação. Logo, a adivinhação não é pecado.

Mas, em contrário, a Escritura: Não se ache entre vós quem consulte pitões nem adivinhos. E uma decretal determina: Os que recorrem a adivinhações façam penitência durante cinco anos, conforme às regras estabelecidas.

SOLUÇÃO. – O nome de adivinhação significa predição do futuro. Ora, de dois modos podemos prevê–lo: na sua causa e em si mesmo.

As causas dos futuros manifestam um tríplice aspecto. – Certas produzem os seus efeitos sempre e necessariamente. E daqui, podemos prever e predizer com certeza esses efeitos futuros, considerando–lhes a causa; assim, os astrólogos predizem os eclipses futuros. Mas, outras causas produzem os seus efeitos não necessariamente e sempre, mas quase sempre, falhando raras vezes. E então, levando–as em conta, podemos prever o futuro, não certa mas conjecturalmente. Assim, os astrólogos, observando as estrelas, podem prever e anunciar a chuva e a seca; e os médicos, a saúde ou a morte. Mas, há ainda outras causas que, em si mesmas consideradas, são capazes de produzir tais efeitos ou tais outros. O que, sobretudo se dá com as potências racionais, que podem tender para termos opostos, segundo o Filósofo. E esses efeitos, mesmo se os há que algumas vezes procedam de causas naturais fortuitas, não podemos prevê–los conhecendo–lhes as causas. Porque estas não os produzem necessariamente. Por onde, tais efeitos não podem ser previstos, senão em si mesmos considerados.

Ora, os homens só podem observar esses efeitos, em si mesmos, quando presentes; assim, quando veem Sócrates correr em andar. Mas, só Deus pode conhece–los, como tais, antes de realizados; porque só ele vê, na sua eternidade, o futuro como presente, segundo já estabelecemos na Primeira Parte. Por isso diz a Escritura: Anunciei as coisas que tem de vir para o futuro e ficaremos sabendo que vós sois deuses. Portanto, quem pretender, de qualquer modo, predizer ou prever tais futuros, sem revelação divina, manifestamente usurpa o que pertence a Deus. E por isso é que certos se chamam adivinhos. Donde o dizer Isidoro: Chamam–se adivinhos por estarem como que cheios de Deus; pois, simulam–se invadidos da divindade e, por uma astuciosa fraudulência, predizem o futuro dos outros.

Mas, não há adivinhação em predizermos o que necessariamente ou quase sempre acontece, e que a razão humana pode prever. Nem no caso de quem conhecer certos futuros contingentes, por divina revelação; pois, então, não adivinha, isto é, não faz o que é divino, mas antes, recebe o divino. Pois, só pratica a adivinhação quem, de modo indevido, usurpa o poder de predizer os acontecimentos futuros. Ora, isto é pecado. Portanto, a adivinhação é sempre pecado. E por isso Jerônimo diz que a adivinhação é sempre tomada em mau sentido.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A adivinhação não é assim chamada em virtude de participar ordenadamente de um dom divino, mas, por implicar uma usurpação indevida, como se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Há certas artes de prever os acontecimentos futuros, que necessariamente ou quase sempre se realizam; e que não constituem adivinhação. Mas, há outros acontecimentos futuros que não podem ser conhecidos por nenhumas verdadeiras artes ou ciências, mas só por artes vãs e falazes introduzidas por ardis enganosos do demônio, como diz Agostinho.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O homem tem inclinação· natural para conhecer o futuro, de modo humano; não, porém pelo modo indevido, da adivinhação.

AdaptiveThemes