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Art. 1 – Se devemos louvar a Deus oralmente.

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O primeiro discute–se assim. – Parece que não devemos louvar a Deus oralmente.

1. – Pois, diz o Filósofo: Aos seres ótimos não damos louvor mas, algo de maior e melhor. Ora, Deus é o ótimo dos seres. Logo; não lhe devemos louvor, mas mais que louvor.· Por isso, a Escritura diz que Deus é maior que todo o louvor.

2. Demais. –O louvor de Deus é objeto do culto divino, por ser um ato de religião. Ora, nós cultuamos a Deus mais pela mente do que pela boca; por isso o Senhor aplica a certos aquilo da Escritura: Este povo me glorifica com os seus lábios, mas o seu coração está contudo longe de mim. Logo, devemos louvar a Deus mais com o coração do que com palavras.

3. Demais. – Louvamos os outros com palavras para leva–los a melhores práticas. Pois, assim como os maus se ensoberbecem com os louvores que recebem, assim, os bons tiram partido dos louvores que recebem para serem melhores. Por isso diz a Escritura: Do modo que a prata é provada no vaso de derreter, assim o homem é provado pela boca do que o louva. Ora, as palavras dos homens não podem fazer com que Deus seja melhor, tanto por ser imutável, como porque, sendo o sumo bem, não pode crescer na bondade. Logo, não devemos louvar a Deus oralmente.

Mas, em contrário, a Escritura: Com lábios de júbilo te louvará a minha boca.

SOLUÇÃO. – As nossas palavras não às usamos do mesmo modo para com Deus e para com os homens. Para com estes usamos delas para exprimir ideias que temos em mente, que não poderão conhecer se não as exprimirmos oralmente. Por isso, externamos oralmente o nosso louvor, para saberem, tanto o louvado como os outros, que formamos dele boa opinião. E assim levá–lo a ser melhor, induzir os que nos ouvem o louvá–lo, a terem boa opinião dele, a reverenciá–lo e imitá–lo. Mas, quando falamos a Deus, que vê os corações, não é para lhe manifestar o nosso pensamento, mas, para incitar, tanto a nós mesmos como os que nos ouvem a reverenciá–lo. Daí a necessidade do louvor oral, não por causa de Deus, mas em benefício mesmo nosso; pois, pelo louvor mesmo que lhe damos, despertamos o nosso amor para com ele, segundo aquilo da Escritura: Sacrifício de louvor me louvará: é ali o caminho por onde lhe mostrarei a salvação de Deus. E na medida mesma em que, louvando–o, alcançamos para Deus o nosso amor, nessa mesma afastamo–nos do que lhe é contrário, conforme ao dito da Escritura: Enfrear–te–ei com o meu louvor para que não pereças. E também o louvor oral desperta o afeto dos outros para Deus. Donde o dizer a Escritura: Seu louvor será sempre na minha boca; e depois acrescenta: Ouçam–no os humildes e alegrem–se. Engrandecei comigo ao Senhor.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – De dois modos podemos falar de Deus. Considerando–lhe a essência; e então, por incompreensível e inefável, está acima de todo louvor. Mas, neste ponto de vista, devemos–lhe a reverência e a honra da latria. Por isso diz o saltério de Jerônimo. Em se tratando de ti, ó Deus, todo, louvor se cala – quanto ao primeiro ponto; e quanto ao segundo – a ti se te pagarão os votos. – De outro modo, considerando–lhe o efeito, que se ordena para a nossa utilidade, e então nós lhe devemos louvor. Por isso diz a Escritura: Eu me lembrarei das misericórdias do Senhor, cantarei o louvor do Senhor por todos os bens que o mesmo Senhor nos deu. E Dionísio diz: Verás que todos os hinos, dos santos teólogos, isto é, os divinos louvores, distinguem os nomes de Deus, segundo as participações que ele na sua bondade permite, da tearquia, isto é, da sua divindade, pelas criaturas para lhe manifestarem as perfeições e cantarem–lhe os louvores.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O louvor oral é inútil para quem o dá se não for acompanhado do louvor do coração, que glorifica a Deus pensando com amor nas maravilhas das suas obras. Contudo, o louvor externo da boca serve para nos despertar o afeto interior e levar os outros a louvarem a Deus, como se disse.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Louvamos a Deus, não para utilidade sua mas, nossa, como se disse.

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