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Art. 2 – Se é lícito jurar.

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O segundo discute–se assim. – Parece que não é lícito jurar.

1. – Pois, nada do que a lei divina proíbe é lícito. Ora, a Escritura proíbe o juramento. Assim, num lugar diz: Eu vos digo que absolutamente não jureis; e noutro: Antes de todas as causas, irmãos meus, não jureis. Logo, o juramento é ilícito.

2. Demais. – Parece que o proveniente de um mau princípio é ilícito; pois, o Evangelho diz: Não pode a árvore má dar bons frutos. Ora, o juramento provém de um mau princípio, conforme ainda ao Evangelho: Mas seja o vosso falar: sim, sim, não, não, porque tudo o que daqui passa procede do mal. Logo, o juramento parece ilícito.

3. Demais. – Buscar sinais comprovantes da providência divina é tentar a Deus, o que é absolutamente ilícito, segundo a Escritura: Não tentarás ao Senhor teu Deus. Ora, parece que quem jura busca um sinal comprovante da providência divina, pedindo que o testemunho divino se manifeste por algum efeito evidente. Logo, parece que o juramento é absolutamente ilícito.

Mas, em contrário, a Escritura: Temerás ao Senhor teu Deus e não jurarás senão pelo seu nome.

SOLUÇÃO. – Nada impede que uma coisa em si mesma boa redunde em mal de quem usa dela inconvenientemente. Assim, receber a Eucaristia é bom e contudo, quem a recebe indignamente come e bebe para si a condenação, como diz o Apóstolo.

Por onde à questão proposta, elevemos responder que o juramento, em si mesmo, é lícito e honesto. O que será claro a quem lhe considerar a origem e o fim. Pela origem, por se fundar na fé pela qual cremos que Deus tem a verdade infalível e o conhecimento como a providência universal de todas as coisas. Pelo fim, porque o juramento é pronunciado para nos justificar e acabar as controvérsias, como diz o Apóstolo. – Mas, o juramento redunda em mal de quem usa mal dele, isto é, sem a necessidade e a cautela devidas. Assim, manifesta pouca reverência para com Deus quem por qualquer motivo leve o invoca como testemunha, o que não faria em se tratando de qualquer homem honesto. E também corre perigo de perjúrio, porque facilmente delinquimos com as nossas palavras, segundo a Escritura: Se alguém não tropeça em qualquer palavra, este é varão perfeito. Donde o dizer ainda a mesma, noutro lugar: A tua boca não se acostume ao juramento, porque nele se dão quedas por muitos modos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Jerônimo diz: Considera que não Salvador não proibiu jurar por Deus, mas, pelo céu e pela terra. Pois, os Judeus são conhecidos como portadores desse péssimo costume de jurar pelos elementos. – Mas, esta resposta não é suficiente porque Tiago acrescenta: Nem outro qualquer juramento. – Por isso, devemos dizer com Agostinho: O Apóstolo, usando do juramento nas suas epistolas, mostra o sentido a ser dado às palavras – Eu vos digo que absolutamente não jureis. Isto é, para não cairmos, usando do juramento, no defeito de jurar facilmente a propósito de tudo; dessa facilidade, no costume; e assim, do costume, no perjúrio. Por isso, antigamente não se jurava senão por escrito, por ser a escrita mais acautelada e sem a precipitação da língua.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Diz Agostinho: Se fores obrigado a jurar, sabe que essa necessidade vem da fraqueza daqueles a que queres persuadir, cuja fraqueza é um mal. Por isso o Senhor não disse – Tudo o que daqui passa é mau. Pois, não fazes mal, fazendo um bom uso do juramento para persuadir o que é útil persuadir. Mas o Senhor disse: procede do mal daquele cuja fraqueza te obriga a jurar.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Quem jura não tenta a Deus, porque não implora o auxílio divino sem utilidade e necessidade; e além disso não se expõe a nenhum perigo se Deus não quiser nesse momento dar o seu testemunho. Mas, dá–lo–á certamente no futuro, quando puser às claras o que se acha escondido nas mais profundas trevas e descobrir ainda o que há de mais secreto nos corações, como diz o Apóstolo. E esse testemunho não faltará a todo o que jurar, quer para favorecê–lo, quer para contrariá–lo.

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