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Art. 1 – Se o voto consiste no só propósito da vontade.

O primeiro discute–se assim. – Parece que o voto consiste no só propósito da vontade.

1. – Pois, segundo certos, o voto é a concepção ele um bom propósito firmemente deliberado, pelo qual nos obrigamos para com Deus a praticar ou não um ato. Ora, a concepção de um bom propósito, com tudo o que implica, pode consistir apenas num movimento da vontade. Logo, o voto consiste só num propósito da vontade.

2. Demais. – O nome mesmo do voto parece derivado da vontade; pois, dizemos que alguém faz de próprio voto o que faz voluntariamente. Ora, ao passo que o propósito é um ato ela vontade, a promessa o é da razão. Logo, o voto consiste só num propósito da vontade.

3. Demais. – O Senhor diz: Ninguém que mete a sua mão ao arado e olha para trás é apto para o reino de Deus. Ora, quem está com o propósito de fazer bem mete a mão ao arado. Logo, se olhar para trás, desistindo do bom propósito, não é apto para o reino de Deus. Portanto, nós nos obrigamos para com Deus só pelo om propósito, mesmo sem termos feito nenhuma promessa. Por onde, parece que o voto consiste no só bom propósito da vontade.

Mas, em contrário, a Escritura: Se fizeste algum voto a Deus, trata de o cumprir logo, porque lhe desagrada a promessa infiel e imprudente. Logo, fazer voto é prometer e o voto é uma promessa.

SOLUÇÃO. – O voto implica obrigação de fazer ou não alguma coisa, Ora, obrigamo–nos para com outrem por meio de uma promessa, que é um ato de razão, da qual é próprio ordenar. Pois, assim como, mandando ou pedindo, determinamos de certo modo, o que os outros nos devem fazer, assim, prometendo, estabelecemos o que nós lhes devemos. Mas, as promessas feitas aos outros não podem ser senão por palavras ou quaisquer sinais externos. Ao contrário, as feitas a Deus pelo só pensamento podem sê–lo; pois, diz a Escritura: O homem vê o que está patente, mas o Senhor olha para o coração. Mas, exprimimos às vezes as nossas palavras oralmente, ou para nos espertarmos a nós mesmos, como quando oramos, segundo já dissemos; ou para exortar a que os outros não só deixem, por temor de Deus, de quebrar votos, mas também por uma certa reverência para com os homens. Ora, a promessa procede do propósito de fazermos alguma coisa; e este, sendo um ato deliberado da vontade, pressupõe uma deliberação. Por onde, o voto exige três condições necessárias: primeiro, a deliberação; segundo, o propósito da vontade; terceiro, a promessa, que lhe dá a sua plenitude. Mas, acrescentam–se às vezes duas outras condições como para confirmá–lo: a expressão verbal, conforme àquilo da Escritura: Pagar–te–ei os meus votos, que pronunciaram os meus lábios; e, além disso, o testemunho dos outros. Por isso, diz o Mestre das sentenças, que o voto é a testificação de uma promessa espontânea, que deve ser feita a Deus e de coisas que são de Deus. Embora, propriamente, essa testificação possa referir–se à testificação interior.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A concepção de um bom propósito não se determina pela deliberação do espírito, sem uma promessa consequente a essa deliberação.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O que está ao alcance da nossa vontade nos move a razão a promete–lo. E por isso é que o nome de voto tira a sua designação da vontade, como do primeiro motor.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Quem mete a mão ao arado já começou a agir. Mas, quem só propôs ainda não. Porém, uma vez que prometeu, já começa a se preparar à ação, embora ainda não haja cumprido o prometido; assim como quem pós a mão ao arado, embora ainda não esteja arando, contudo, já fez o gesto de quem vai arar.

 

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