O quarto discute–se assim. – Parece que há seres reduzidos ao nada.
1. – Pois, o fim corresponde ao princípio. Ora, no princípio, só Deus existia. Logo, as criaturas terão um fim tal, que nada existirá a não ser Deus; e assim serão reduzidas ao nada.
2. Demais. – Toda criatura tem potência finita. Ora, nenhuma potência finita se estende até o infinito; por isso Aristóteles prova que uma potência finita não pode mover, num tempo infinito. Logo, nenhuma criatura pode durar infinitamente. E, portanto, será reduzida ao nada.
3. Demais. – A forma e o acidente não tem a matéria, como parte. Ora, às vezes deixam de existir. Logo, são reduzidas ao nada.
Mas, em contrário, diz a Escritura: Eu aprendi que todas as obras que Deus fez perseveram para sempre.
SOLUÇÃO. – O que Deus faz, em relação à criatura, ora provém do curso natural das coisas; ora é operado milagrosamente, fora da ordem natural imposta às criaturas, como a seguir se dirá. – Quanto ao que Deus há de fazer, segundo a ordem natural imposta às coisas, isso pode ser deduzido da própria natureza delas; o que porém se faz milagrosamente, ordena–se à manifestação da graça, conforme o Apóstolo que diz: A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito; e a seguir entre outras coisas trata de operação dos milagres. Ora, as naturezas das criaturas demonstram que nenhuma delas é reduzida ao nada; porque ou são imateriais e então não tem a potência para o não ser; ou são materiais e então permanecem sempre, ao menos quanto à matéria, que é incorruptível, como sujeito existente da geração e da corrupção. Por outro lado, reduzir algum ser ao nada não condiz com a manifestação da graça; pois, a potência e a bondade divinas mostram–se sobretudo na conservação das coisas na existência. – Por onde, deve–se dizer, simplesmente, que absolutamente nada será reduzido ao nada.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O terem sido as coisas trazidas à existência, do nada, manifesta a potência de quem as produziu. Ora, se fossem reduzidas ao nada impediriam essa manifestação, porque o poder de Deus se mostra sobretudo no conservá–las na existência, conforme aquilo do Apóstolo: Sustentando tudo com a palavra da sua virtude.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A potência da criatura para existir é apenas receptiva; ao passo que a potência ativa é de Deus mesmo, de quem provém o influxo para a existência. Por onde, o durarem as coisas infinitamente resulta da infinidade da divina virtude. A virtude de certas coisas, porém, é determinada a permanecer num tempo determinado, porque podem ser impedidas de receber o influxo para a existência, proveniente de Deus, por algum agente contrário, ao qual uma virtude finita não pode resistir num tempo infinito, mas só num tempo determinado. Por onde, os seres que não tem contrários, embora tenham a virtude finita, perseveram eternamente.
RESPOSTA À TERCEIRA. – As formas e os acidentes não são entes completos, porque não subsistem; mas, umas e outros tem algo do ente; pois, chamam–se entes, porque fazem alguma cousa existir. E contudo, do modo pelo qual existem, não serão absolutamente reduzidos ao nada; não porque alguma parte deles permaneça; mas porque permanecem na potência da matéria e do sujeito.