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Art. 8 – Se a Imagem da divina Trindade está na alma só por comparação com o objeto, que é Deus.

O oitavo discute–se assim. – Parece que a imagem da divina Trindade está na alma não só por comparação com o objeto, que é Deus.

1. Pois, como já se disse, a imagem da divina Trindade está na alma, porque o verbo, em nos, procede do dicente e o amor, de ambos. Ora isto se dá, em nós, em relação a qualquer objeto. Logo, em relação a qualquer objeto, esta em a nossa mente a imagem da divina Trindade.

2. Demais. – Agostinho diz, que, quando buscamos na alma a trindade, buscamo–Ia em toda a alma, sem separar a ação racional, relativa às causas temporais, da contemplação das coisas eternas, Logo, também em relação aos objetos temporais, a imagem da Trindade está na alma.

3. Demais. – Por dom da graça é que podemos inteligir e amar a Deus. Se pois, pela memória, inteligência e vontade, ou amor de Deus, é que a imagem da Trindade está na alma, essa imagem está no homem, não pela natureza deste, mas pela graça. E assim, não é comum a todos.

4. Demais. – Os santos, que estão na pátria, são conformes em máximo grau à imagem de Deus, quanto à visão da glória. Por onde, diz a Escritura: Somos transformados de claridade em claridade, na mesma imagem. Ora, pela visão da glória, conhecem–se as coisas temporais. Logo, também por comparação com as coisas temporais, a imagem de Deus está em nos.

Mas, em contrário, diz Agostinho: a imagem de Deus está na mente, não porque esta se lembra de si e a si se intelige e ama; mas porque também pode lembrar–se de Deus, por quem foi feita, bem como inteligí–lo e amá–lo. Logo, é muito menos, relativamente aos outros objetos, que a imagem de Deus está na mente.

SOLUÇÃO. – Como já se disse antes, imagem importa semelhança, realizando, de certo modo, a representação da espécie. Por onde, necessariamente, a imagem da divina Trindade está na alma segundo algo que represente as divinas Pessoas pela representação da espécie, como  é possível à criatura. Ora, como já se disse, as divinas Pessoas distinguem–se pela processão do Verbo, do dicente, e pela do Amor, de ambos! Ora, o verbo divino nasce de Deus pelo conhecimento de si mesmo, e o Amor procede de Deus enquanto Deus a si mesmo se ama. Mas é manifesto, que a diversidade dos objetos diversifica a espécie do verbo e a do amor. Pois, na mente do homem, o verbo concebido no concernente a uma pedra não é idêntico, especificamente, ao que respeita a um cavalo, nem é o amor especificamente o mesmo. Por onde, a imagem divina se considera no homem, quanto ao verbo concebido a respeito do conhecimento de Deus e ao amor, daí derivado. E assim, a imagem de Deus está na alma enquanto ela é levada ou lhe é natural ser levada para Deus. Ora, a mente é levada para algum objeto, de duplo modo: direta e imediatamente; e indireta e mediatamente, como quando se diz que alguém, vendo a imagem de um homem num espelho, levado para esse homem. E por isso Agostinho diz: a mente lembra–se de si, intelige–se, ama–se, Se discernimos isso, discernimos a trindade; não, por certo. Deus, mas já a imagem de Deus. E isto se dá, não porque a mente seja levada para si mesma, absolutamente, mas porque, desse modo, pode ulteriormente ser levada para Deus, como é claro pela autoridade supra citada.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A essência da imagem, necessariamente inclui que uma cousa há de proceder de outra, mas também devemos considerar que cousa é a procedente dessa outra; isto é, que o Verbo de Deus procede do conhecimento de Deus.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Por certo que a alma toda representa uma trindade, não porque, como sustenta a objeção, além da ação relativa às coisas temporais e da contemplação das eternas, haja–se de buscar um terceiro termo em que a trindade se complete. Mas, na parte racional, que se ocupa com coisas temporais, embora se possa distinguir a trindade, não se pode, contudo, distinguir a imagem de Deus, como a seguir se diz; porque o conhecimento dessas coisas temporais é adventício à alma. E demais, os próprios hábitos pelos quais se conhecem tais coisas, nem sempre estão em exercício; mas, ora, se exercem pela sua presença; ora, só pela memória, mesmo depois que começam a se manifestar como presentes. O que é claro na fé, a qual, temporalmente nos advém, no presente; porém no estado da futura beatitude já não haverá fé, senão só a memória dela.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O conhecimento e o amor meritórios de Deus só existem pela graça. Há, contudo certo conhecimento e amor natural, como antes já se disse. Mas também é natural o fato mesmo de a mente poder inteligir a Deus, usando da razão, pelo que dissemos que a imagem de Deus sempre permanece na mente; e segundo diz Agostinho, quer essa imagem de Deus esteja esquecida, como obumbrada, de modo a quase não existir, como se dá com aqueles que não tem o uso da razão; quer seja obscura e deformada, como nos pecadores; quer seja clara e bela, como nos justos.

RESPOSTA À QUARTA. – Pela visão da glória, as coisas temporais serão vistas no próprio Deus; e por isso a visão de tais coisas pertencerá à imagem de Deus. E é o que diz Agostinho: naquela natureza à qual a mente felizmente aderir, verá imutavelmente tudo o que vir. Pois, no Verbo incriado estão as razões de todas as criaturas.

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