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Art. 4 — Se os predestinados são eleitos por Deus.

(I Sent., dist. XLI, a. 2; De Verit., q. 6, a. 2; ad Ram., cap. IX, lect. II).
 
O quarto discute-se assim. — Parece que não são os predestinados eleitos por Deus.
 
1. — Pois, Dionísio diz que assim como o sol material projeta luz em todos os corpos, sem os eleger, assim, Deus, a sua bondade1. Ora, esta se comunica precipuamente aos partici­pantes da graça e da glória. Logo, Deus comu­nica, sem eleição, a graça e a glória, o que cons­titui a predestinação.
 
2. Demais. — Elegemos o que existe. Ora, mesmo os seres que não existem são predesti­nados abeterno. Logo, certos são predestinados sem eleição.
 
3. Demais. — Eleição supõe discriminação. Ora, Deus quer que todos os homens se salvem, como está na Escritura (1 Ti 2, 4). Logo, na predestina­ção, que preordena os homens a que se salvem, não há eleição.
 
Mas, em contrário, a Escritura (Ef 1, 4): Assim como nos elegeu mesmo antes do estabelecimento do mundo.
 
Solução. — O conceito de predestinação pressupõe a eleição, e esta, o amor. Porque, segundo dissemos2, a predestinação faz parte da providência. Ora, como a prudência, a provi­dência é a razão existente no intelecto e que determina que certos seres se ordenem ao seu fim, como vimos3. Ora, sem preexistir a vonta­de do fim, nada pode ser determinado a se ordenar para ele. Por onde, a predestinação de certos, a que se salvem, pressupõe racionalmente, que Deus lhes quer a salvação, o que inclui a eleição e o amor. O amor, por querer-lhes Deus o bem da salvação eterna; pois, amar é querer um bem a alguém, como dissemos4. A eleição, por querer-lhes tal bem a uns de pre­ferência a outros; pois, certos são reprovados, conforme vimos5. Mas a eleição e o amor não se exercem do mesmo modo em nós e em Deus. Porque a nossa vontade não causa o bem que ama; ao contrário, o bem preexistente é que nos incita a amá-lo. Por isso, elegemos a quem amamos. Por onde, em nós, a eleição precede o amor, mas o inverso se dá com Deus, cuja vontade, querendo bem a quem ama é causa de que este, de preferência a outro, possua esse bem. E portanto é claro que o amor, racionalmente, é anterior à eleição, e esta, à predestinação. Por onde, todos os predesti­nados são eleitos e amados.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — Considerada em geral a comunicação da bon­dade divina, Deus a comunica sem eleição, por­que nenhum ser há que, de algum modo, não participe dela, conforme dissemos6. Mas, considerada a comunicação de um determinado bem, Deus não o concede sem eleição; pois, dá certos bens a uns, que não dá a outros. Por onde, é mister levar em conta a eleição, na atribuição da graça e da glória.
 
Resposta à segunda. — Necessariamente a eleição concerne ao que existe quando, como acontece conosco, a vontade é a ela provocada pelo bem preexistente realmente. Ora, em Deus não é assim, como vimos7. E por isso, diz Agos­tinho: Deus, elegendo o que não existe, nem por isso erra8.
 
Resposta à terceira. — Como já vimos9, Deus quer por vontade antecedente, que todos os ho­mens se salvem; o que não é querer de modo absoluto, mas relativo. Mas, não o quer por vontade conseqüente, o que seria querer de modo absoluto.

  1. 1. De Div. Nom., cap. IV.
  2. 2. Q. 23, a. 1.
  3. 3. Q. 22, a. 1.
  4. 4. Q. 20, a. 2, 3.
  5. 5. Q. 23, a. 3.
  6. 6. Q. 6, a. 4.
  7. 7. In corp.; et q. 20, a. 2.
  8. 8. Serm. ad Popul., 26.
  9. 9. Q. 19, a. 6.
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