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Art. 4 — Se Cristo subiu acima de todos os céus.

 O quarto discute-se assim. — Parece que Cristo não subiu acima de todos os céus. 

1. — Pois, diz a Escritura: O Senhor habita no seu santo templo, o trono do Senhor é no céu. Ora, o que está no céu não está acima dele. Logo, Cristo não subiu acima de todos os céus.
 
2. Demais. — Dois corpos não podem estar no mesmo lugar. Ora, como não passou de um extremo para outro, transitando pelo meio, parece que Cristo não podia subir além de todos os céus, a menos que o céu não se dividisse. O que é impossível.
 
3. Demais. — A Escritura refere que uma nuvem o ocultou aos olhos deles. Ora, as nuvens não podem elevar-se acima dos céus. Logo, Cristo não subiu acima de todos os céus.
 
4. Demais. — Cremos que Cristo há de permanecer perpetuamente no lugar onde subiu. Ora, o contrário à natureza não pode ser sempiterno; pois, o que é segundo a natureza se realiza no mais das vezes e mais frequentemente. Ora, sendo contra a natureza de um corpo terrestre existir acima do céu, parece que o corpo de Cristo não subiu acima dele.
 
Mas, em contrário, o Apóstolo: Subiu acima de todos os céus, para encher todas as causas.
 
SOLUÇÃO. — Tanto mais perfeitamente um corpo participa da bondade divina, tanto mais de ordem corpórea superior é, que é a ordem local. Assim, os corpos que têm maior formalidade são naturalmente superiores, como está claro no Filósofo; pois, pela forma é que cada corpo participa do ser divino. Ora, mais participa da divina bondade o corpo, pela glória, do que qualquer corpo natural, pela forma da sua natureza. E dentre os outros corpos gloriosos é manifesto que o corpo de Cristo tem glória mais refulgente. Por onde, convenientíssimo lhe é estar constituído no alto, acima de todos os corpos. Por isso àquilo do Apóstolo — subindo ao alto, diz a Glosa: Em lugar e dignidade.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Dizemos que o trono de Deus e no céu, não que este o contenha, mas antes, como contido por ele. Por onde, não é necessário haja nenhuma parte do céu superior a ele, mas sim, que ele seja superior a todos os céus, como o diz a Escritura: A tua magnificência se elevou sobre os céus.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora um corpo não possa por natureza, ocupar o mesmo lugar que outro, contudo Deus pode fazer milagrosamente com que ambos ocupem o mesmo lugar. Assim fez o corpo de Cristo nascer do ventre virginal de Maria e passou através de portas fechadas, como diz S. Gregório. Logo, podia o corpo de Cristo ocupar o mesmo lugar que outro, não por propriedade corpórea sua, mas por auxílio e obra do poder divino.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — A nuvem referida não prestou nenhum auxílio, como meio pelo qual Cristo fosse conduzido ao céu; mas apareceu, como sinal manifestativo da divindade, assim como a glória do Deus de Israel aparecia sobre o tabernáculo em forma de nuvem.
 
RESPOSTA À QUARTA. — O corpo glorioso não é em virtude dos princípios mesmos da sua natureza que pode estar no céu ou acima dele; mas recebe essa capacidade, da alma bem-aventurada, donde tiraa sua glória. E, assim como o movimento do corpo glorioso para cima não é violento, também não o é o repouso. Por onde, nada impede seja este sempiterno. 
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