“Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu filho Unigênito, para que todo o que crê nele, não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16)
A causa de todos nosso bens é o Senhor e o amor divino. Amar, propriamente, é querer o bem a alguém. Portanto, por ser a vontade de Deus causa das coisas, e porque Ele nos ama, sobrevem-nos o bem.
O amor de Deus é causa do bem da natureza. Também o é do bem da graça: “Eu amei-te com amor eterno; por isso te atrai” (Jr 31), isto é, pela graça.
Mas, que seja também o que dá o bem da graça, resulta de grande caridade. Demonstra-se aqui ser máxima esta caridade de Deus, por quatro motivos:
Seu filho, isto é, natural, consubstancial a si, não adotivo. Unigênito, para demonstrar que Deus não dirigiu seu divino amor a múltiplos filhos, mas dirigiu-o todo ao Filho que nos deu como prova de seu imenso amor.
Diz-se de alguém que pereceu porque foi impedido de alcançar o fim ao qual estava ordenado. O homem está ordenado a vida eterna e, quando peca, desvia-se deste mesmo fim. Enquanto vive, não perece de todo, pois pode restaurar; quando morre em pecado, então perece de todo.
Com estas palavras, “tenha a vida eterna”, verifica-se a imensidão do amor divino; pois, ao dar a vida eterna, da-se a si mesmo. Ora, a vida eterna nada mais é do que o gozo de Deus. Dar-se a si mesmo é indício de grande amor.
(In Joan. 3)