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Art. 2 — Se se lê com conveniência que a produção das plantas foi feita no terceiro dia.

 

 

O segundo discute-se assim. – Parece que não se lê com conveniência que a produção das plantas foi feita no terceiro dia.
 
1. – Pois as plantas, como os animais, têm vida. Ora, a produção dos animais não se coloca entre as obras da distinção, mas pertence à obra do ornato. Logo, nem a produção das plantas devia se comemorar no terceiro dia, que pertence à obra da distinção.
 
2. Demais. – O que implica a maldição da terra não devia ser comemorado com a formação da mesma. Ora, a produção de certas plantas implica a maldição da terra, segundo a Escritura (Gn 3, 17-18): A terra será maldita na tua obra... ela te produzirá espinhos e abrolhos. Logo, não devia, universalmente, ser comemorada no terceiro dia, que é o da formação da terra. 
 
3. Demais. – Como as plantas, também as pedras e os minerais aderem à terra; e todavia deles não se faz menção, na formação desta. Logo, nem as plantas deviam ter sido feitas no terceiro dia.
 
Mas, em contrário, diz a Escritura (Gn 1, 12): E produziu a terra erva verde; e, em seguida, se acrescenta: E da tarde e da manhã se fez o dia terceiro.
 
SOLUÇÃO. – Como antes se disse, no terceiro dia foi removida a informidade da terra. Ora, descreve-se-lhe uma dupla informidade: uma, porque a terra era invisível, ou informe, por estar coberta das águas; a outra, porque estava desordenada, ou vazia, i. é, sem o devido decoro, adveniente das plantas que de certo modo a vestem. Assim, uma e outra informidade se lhe removeu nesse terceiro dia; a primeira, porque as águas, ajuntem-se num só lugar, e apareça o elemento árido; a segunda, porque a terra produziu erva verde.
 
Contudo, sobre a produção das plantas, Agostinho opina diferentemente dos outros expositores. Estes dizem, que as plantas foram produzidas, no terceiro dia, com as suas espécies atuais, conforme o sentido superficial do texto. Porém, opina Agostinho, diz-se que, então, a terra produziu a erva e as árvores, casualmente, i. é, recebeu a virtude de produzir. E ele o confirma com a autoridade da Escritura, dizendo (Gn 2, 4-5): Tal foi a origem do céu e da terra, quando foram criados, no dia em que o Senhor Deus fez o céu e a terra e toda a planta do campo antes que nascesse na terra e toda a erva da campina antes que germinasse. Logo, antes de nascerem na terra, nela se fizeram como na sua causa. E isto também se confirma pela razão. Porque, naqueles primeiros dias, Deus criou a criatura, originária ou causalmente; e descansou em seguida, porque desde então até agora ele opera, no governo das coisas criadas, pela obra da propagação. Ora, produzir da terra, as plantas, pertence à essa obra. Por onde, no terceiro dia, não foram produzidas as plantas atual, senão causalmente.
 
Embora, segundo outros, possa-se dizer, que a primeira instituição das espécies pertence às obras dos seis dias. Mas, o proceder, das espécies primeiro instituídas, a geração de seres especificamente semelhantes, já isso pertence ao governo das coisas. E é o que diz a Escritura: Antes que nascesse na terra, ou antes que germinasse, i. é, antes que os semelhantes fossem produzidos dos semelhantes, como vemos agora realizar-se naturalmente, por via de seminação. Donde o dizer a Escritura sinaladamente: Produza a terra erva verde, e que dê semente; pois, foram produzidas espécies perfeitas de plantas, das quais nasceriam as sementes de outras. Nem importa onde tenham a força seminal, se na raiz, no tronco ou no fruto.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A vida, nas plantas, é oculta, pois carecem do movimento local e dos sentidos, que distinguem, por excelência, o animado do inanimado. Por isso as plantas, aderindo imovelmente à terra, considera-se-lhe a produção uma como formação da terra.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. – Mesmo antes dessa maldição, os espinhos e os abrolhos foram produzidos, virtual ou atualmente, embora não o fossem para pena do homem; como se, p. ex., a terra, cultivada para dar-lhe alimento, germinasse em certas plantas infrutíferas e nocivas; por isso foi dito: Ela te produzirá.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. – Moisés só propôs aquelas coisas que manifestamente aparecem, como já se disse (q. 67, a. 4). Ora, os corpos minerais têm a geração oculta nas vísceras da terra; e, demais, desta não têm distinção manifesta, sendo, antes, considerados como espécies de terra. E por isso, não fez menção deles.

 

 

 

 

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