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Art. 9 - Se a justificação do ímpio é a máxima obra de Deus.

 (III, q. 43, a. 4, ad 2; IV Sent., dist. XVII, q. 1, a. 5, qª 1, ad 1, 2; dist. XLVI, q. 2, a. 1, qª 3, ad 2; In Ioan., cap. XIV. Lect. III).


O nono discute-se assim. – Parece que a justificação do ímpio não é a máxima obra de Deus.

1. – Pois, pela justificação, o ímpio consegue a graça nesta vida. Ora, pela glorificação, seguimos a glória da pátria, que é maior. Logo, a glorificação dos anjos ou dos homens é obra maior que a justificação do ímpio.

2. Demais. – A justificação do ímpio ordena-se ao seu bem particular. Ora, o bem do universo é melhor que o de um só homem, como está claro em Aristóteles. Logo, maior obra é a criação do céu e da terra que a justificação do ímpio.

3. Demais. – Fazer algo do nada e sem a cooperação de nenhum agente, é maior obra que fazer uma coisa, de outra, como a cooperação de um paciente. Ora, a obra da criação faz algo do nada, e, portanto, sem a cooperação de nenhum agente. Ao passo que, na justificação do ímpio, Deus faz uma coisa, de outra, i. é, do ímpio, um justo. E há ai uma cooperação por parte do homem, porque há a moção do livre arbítrio, como já se disse. Logo, a justificação do ímpio não é a máxima obra de Deus.

Mas, em contrário, diz a Escritura: as suas misericórdias são sobre todas as suas obras. E a Coleta diz: Deus, que manifestas a tua onipotência sobretudo perdoando e fazendo misericórdia. E Agostinho expondo o lugar da Escritura – Fará outras coisas ainda maiores: - é maior obra fazer do ímpio um justo, que criar o céu e a terra.

SOLUÇÃO. – De dois modos podemos dizer que uma obra é grande. – Quanto ao modo de agir e então a maior obra é a da criação, em que o ser foi feito do nada. – Ou quanto à grandeza da obra. E neste sentido maior obra é a justificação do ímpio, que termina pelo bem eterno da participação divina, do que a criação do céu e da terra, que termina no bem da natureza mutável. Por isso, Agostinho, depois de ter dito, que maior obra é fazer do ímpio um justo, que criar o céu e a terra, acrescenta: O céu e a terra passarão; porém a salvação e a justificação dos predestinados permanecerão.

Mas é preciso não esquecer que há duas espécies de grandeza. – Uma é a de quantidade absoluta. E então, o dom da glória é maior que o da graça, justificava do ímpio. Por isso a glorificação dos justos é maior obra que a justificação do ímpio. – Outra espécie de grandeza é a de quantidade proporcional; assim, dizemos que um monte é pequeno e um grão de milho é grande. E então, o dom da graça justificava do ímpio é maior que o da glória, que beatifica o justo. Porque o dom da graça excede mais à dignidade do ímpio, que era digno da pena, que o dom da glória à dignidade do justo, que pelo fato mesmo de ter sido justificado é digno da glória. Por isso, Agostinho diz no mesmo lugar: Julgue quem puder, se é maior obra criar os anjos justos, que justifica os ímpios. Por certo, se ambos os casos exigem poder igual, o último exige maior misericórdia.

Donde se deduz clara a RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O bem do universo é melhor que o do indivíduo, um e outro considerados no mesmo gênero. Mas o bem da graça é, para o indivíduo, melhor que o da natureza, para todo o universo.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A objeção colhe quanto ao modo de agir, pelo qual a criação é a maior obra de Deus.
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