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Art. 4 – Se, para a justificação do ímpio, é necessária a moção da fé.

 (IV Sent., dist. XVII, q. 1, a. 3, qª 3; De Verit., q. 28, a. 4; Ad Ephes., cap. II, lect. III).


O quarto discute-se assim. – Parece que para a justificação do ímpio não é necessária a moção da fé.

1. – Pois, se o homem é justificado pela fé, pode sê-lo também por outras virtudes, como o temor, do qual diz a Escritura: O temor do Senhor lança fora o pecado; porque aquele que está sem temor não poderá ser justificado. E também pela caridade: Perdoados lhe são seus muitos pecados, porque amou muito. E ainda, pela humildade: Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes. E enfim, pela misericórdia: Os pecados purificam-se pela misericórdia e pela fé. Logo, para a justificação do ímpio não é mais necessária a moção da fé do que a das virtudes referidas.

2. Demais. – O ato de fé não é necessário para a justificação, senão enquanto, por ela, o homem conhece a Deus. Ora, pode conhecer a Deus também por outros modos, como, pelo conhecimento natural e pelo dom da sabedoria. Logo, não é necessário o ato de fé, para a justificação do ímpio.

3. Demais. – São diversos os artigos da fé. Se pois, o ato de fé fosse necessário à justificação do ímpio, seria necessário o homem ter presente ao espírito todos os artigos da fé, no momento de ser justificado. Ora, isto é impossível, pois tal conhecimento demanda longo tempo. Logo, parece que o ato de fé não é necessário à justificação do ímpio.
 
Mas, em contrário, diz a Escritura: Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus.
 
SOLUÇÃO. – Como já dissemos, a moção do livre arbítrio é necessária para a justificação do ímpio, pois a alma do homem é movida por Deus. Ora, Deus move a alma humana convertendo-a para si, como diz a Escritura, segundo outra versão: Ó Deus, tu voltado para nós, nos darás vida. Por onde, para a justificação do ímpio, é necessária a moção da alma, que a faz converter-se para Deus. Ora, a conversão para Deus dá-se, primeiramente, pela fé, conforme à Escritura: É necessário que o que se chega a Deus creia que há Deus. Logo, a moção da fé é necessária à justificação do ímpio.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A moção da fé não é perfeita senão informada pela caridade; por isso, na justificação do ímpio essa moção é simultânea com a da caridade. Ora, o livre arbítrio é movido para Deus afim de se lhe sujeitar; e, por isso, também concorre para tal fim o ato do temor filial e o da humildade. Pois, pode se dar que um mesmo ato do livre arbítrio respeita a diversas virtudes, enquanto uma ordena e outra seja ordenada, na medida em que o ato é susceptível de se ordenar para fins diversos. Ora, o ato de misericórdia vai contra o pecado, a modo de satisfação, e assim é consecutivo à justificação; ou a modo de preparação, enquanto que os misericordiosos alcançarão misericórdia; e então pode preceder à justificação. Ou enfim, pode concorrer para esta, de par com as virtudes referidas, enquanto a misericórdia está incluída no amor do próximo.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Pelo conhecimento natural o homem não se converte para Deus, como objeto da beatitude e causa da justificação. Por isso, tal conhecimento não basta para a justificação, Quanto ao dom da sabedoria, ele pressupõe o conhecimento da fé, como do sobredito resulta.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Como diz o Apóstolo, ao que crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é imputada à justiça, segundo o decreto da graça de Deus. Por onde é claro, que, para a justificação do ímpio é necessário o ato de fé, afim de ele crer que Deus justificou o homem pelo mistério de Cristo.
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