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Art. 11 ─ Se se distinguem acertadamente três auréolas: a das virgens, a dos mártires e a dos pregadores.

O undécimo discute-se assim. ─ Parece que não se distinguem acertadamente três auréolas ─ a das virgens, a dos mártires e a dos pregadores.

1. ─ Pois, a auréola dos mártires corresponde à fortaleza de que deram provas; a auréola das virgens, à virtude da temperança; a auréola enfim dos doutores, à virtude da prudência. Parece, portanto, que deve haver uma quarta auréola, correspondente à virtude da justiça.

2. Demais. ─ Uma Glosa diz: É acrescentada a coroa de ouro quando o Evangelho promete a vida eterna aos que guardarem os mandamentos, naquelas palavras Se tu queres entrar na vida, guarda os mandamentos. E a essa coroa de ouro superpõe a auréola quando diz: se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres. Logo, à pobreza é devida a auréola.

3. Demais. ─ Quem faz voto de obediência se submete a Deus totalmente. Logo, no voto de obediência consiste o máximo de perfeição. Portanto, parece que lhe é devida a auréola.

4. Demais. ─ Há ainda muitas outras obras superrogatórias de que teremos na vida futura uma alegria especial. Logo, há ainda muitas outras auréolas além das três enumeradas.

5. Demais. ─ Tanto podemos divulgar a fé pregando e ensinando, como escrevendo. Logo, também aos escritores é devida uma quarta auréola.

SOLUÇÃO. ─ A auréola é um prêmio privilegiado devido a uma vitória privilegiada. Por onde, conforme as vitórias privilegiadas, nos três combates que todo homem deve sustentar, assim se discriminam as três auréolas. ─ Nos combates contra a carne, ganha a mais excelente das vitórias quem se abstém totalmente dos prazeres venéreos, que são nesse gênero os mais violentos. E assim procedem as virgens. Por isso à virgindade é devida uma auréola. ─ Em seguida, nas lutas contra o mundo, a vitória principal consiste em sustentar a perseguição do mundo até à morte. Por onde, uma segunda auréola é devida aos mártires, vitoriosos nesses combates. ─ Enfim, no combate travado contra o diabo, a vitória completa consiste em expulsar cada um, o inimigo não só de si próprio, mas também do coração dos outros; e tal é o efeito da doutrina e da predicação. Donde uma terceira auréola devida aos doutores e aos pregadores.

Outros porém distinguem três auréolas relativas às três faculdades da alma; e assim três auréolas correspondem aos principais atos dessas três faculdades. ─ Ora, o ato principal da potência racional é difundir entre os homens as verdades da fé. E a esse ato é devida a auréola dos doutores. ─ Em segundo lugar, o ato principal da potência irascível é enfrentar mesmo a morte por amor de Cristo. E a esse é devida a auréola dos mártires. ─ Enfim, o ato principal da potência concupiscível é a abstenção total dos mais deleitáveis dos prazeres da carne. E a esse é devida a auréola das virgens.

Outros ainda distinguem três auréolas segundo as mais eminentes relações de conformidade que temos com Cristo. Assim, ele foi o mediador entre seu Pai e o mundo. Foi portanto doutor enquanto manifestou ao mundo a verdade que do Pai recebeu. Foi também mártir pela perseguição que sofreu do mundo. Foi enfim Virgem pela pureza que em si conservou. Por isso, os doutores, os mártires e as virgens têem com Cristo perfeitíssima relação de conformidade, daí o lhes ser devida a auréola.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ O ato de justiça não supõe nenhuma luta como os atos das outras virtudes. ─ Além disso não é verdade que ensinar seja um ato de prudência. Antes, é um ato de caridade ou de misericórdia, pois, é principalmente o hábito dessas virtudes que nos inclina ao ato do ensino. Ou ainda o hábito da sabedoria, como dirigente. ─ Ou podemos responder, com outros, que a justiça abrange todas as virtudes; por isso não lhe é devida uma auréola especial.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ A pobreza, embora seja um ato de perfeição, não ocupa contudo o lugar supremo em nenhum dos combates espirituais. Porque o amor dos bens temporais nos tenta menos que a concupiscência da carne, ou as perseguições contra o nosso corpo. Por isso à pobreza não é devida a auréola. Mas lhe é devido o poder judiciário em razão da humilhação que a acompanha. Quanto à Glosa citada, considera a auréola em sentido lato, na acepção de qualquer prêmio dado a um mérito excelente.

E o mesmo devemos responder à terceira e quarta objeções.

RESPOSTA À QUINTA. ─ Também aos que divulgam por escrito a doutrina sagrada é devida a auréola. Mas não é distinta da auréola dos doutores, porque compor escritos é um modo de ensinar.

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