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Art. 6 ─ Se os bons serão julgados no juízo.

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O sexto discute-se assim. ─ Parece que os bons não serão julgados no juízo.

1. ─ Pois, diz o Evangelho: Quem nele crê não é julgado. Ora, todos os bons creram em em Cristo. Logo, não serão julgados.

2. Demais. ─ Felizes não são os incertos da sua felicidade; donde conclui Agostinho, que os demônios nunca foram felizes. Ora, os varões santos são felizes já neste mundo. Logo, estão certos da sua felicidade. Ora, o que é certo não pode constituir objeto de juízo. Logo, os bons não serão julgados.

3. Demais. ─ O temor repugna à felicidade. Ora, o juízo final, o mais tremendo de todos, não pode deixar de causar temor aos que devem ser julgados. Por isso, àquilo da Escritura ─ Quando se elevar temerão os anjos, etc. ─ diz Gregório: Consideremos como se abalará então a consciência dos maus, quando mesmo os justos terão a vida cheia de horror. Logo, os santos não serão julgados.

Mas, em contrário. ─ Parece que todos os bons serão julgados. Pois, diz o Apóstolo: Importa que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o galardão segundo o que tem feito, ou bom ou mau, estando no próprio corpo. Ora, ser julgado não é senão isso. Logo, todos, mesmo os bons, serão julgados.

2. Demais. ─ O universal abrange tudo. Ora, esse juízo será chamado universal. Logo, todos nele serão julgados.

SOLUÇÃO. ─ Duas cousas compreende o juízo: a avaliação dos méritos e a retribuição dos prêmios. Ora, quanto à retribuição dos prêmios, todos serão julgados, mesmo os bons; pois, cada um receberá, por sentença divina, o prêmio correspondente ao mérito. Mas, a avaliação dos méritos não terá lugar senão quando houver mescla de bens com males. Ora, os que elevam sobre o fundamento da fé edifício d'ouro, de prata, de pedras preciosas, totalmente entregues ao serviço divino e que não mesclaram com as suas boas ações nenhum mal grave, para esses não haverá lugar a avaliação dos méritos; tal, p. ex., o que se dará com aqueles que, desprezadas completamente as cousas do mundo, só cuidam solícitos nas cousas de Deus. Por isso hão de salvar-se, mas não serão julgados. Mas aqueles que levantam sobre o fundamento da fé edifício de madeira, de feno e de palha, i. é, os que amem ainda as cousas do mundo, e vivem enredados em negócios seculares, mas de modo que nada anteponham a Cristo e se esforçam por redimir os seus pecados com esmolas, esses mesclam com o mal os méritos das suas boas obras, por isso esses méritos devem ser ponderados. Por isso esses tais embora sejam assim julgados, contudo se salvarão.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Sendo a punição um efeito da justiça e o prêmio, da misericórdia, por isso antonomásticamente a punição é, de preferência, considerada objeto do juízo; de modo que às vezes o juízo é tomado no sentido de condenação. Tal o sentido da autoridade citada, como o corrobora a Glosa a esse lugar.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ A avaliação dos méritos dos eleitos a serem julgados não tem por fim privar-lhes o coração da certeza da felicidade, mas para mostrar a todos manifestamente a preeminência do bem sobre o mal e proclamar assim a justiça de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Gregório se refere aos justos que ainda vivem esta vida mortal. Por isso tinha dito antes: Os que, na ocasião do juízo, viverem ainda neste mundo, embora já fortes e perfeitas, contudo, apesar de ainda viverem esta vida, não poderão deixar de ser sacudidas pelo pavor no meio desse turbilhão de tantos terrores. Por onde é claro que esse terror se refere ao tempo imediatamente precedente ao juízo, por certo soberanamente tremendo para os maus, mas não para os bons, nos quais não haverá nenhuma suspeita de mal.

Quanto às objeções em contrário, fundam-se no juízo quanto à retribuição dos prêmios.

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