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Art. 2 ─ Se os santos não empregarão nunca a sua agilidade para moverem-se.

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O segundo discute-se assim. ─ Parece que os santos não empregarão nunca a sua agilidade para moverem-se.

1. ─ Pois, segundo o Filósofo, o movimento é o ato de um ser imperfeito. Ora, nos corpos gloriosos não haverá nenhuma imperfeição. Logo, nem movimento nenhum.

2. Demais. ─ Todo movimento supõe uma indigência porque todo o ser que se move é em busca de algum fim. Ora, os corpos gloriosos não sofrerão nenhuma indigência; pois, como diz Agostinho, no céu terás tudo quanto quiseres e nada do que não quiseres. Logo, não se moverão.

3. Demais. ─ Segundo o Filósofo, o ser participante da divina bondade sem mover-se, dela participa mais nobremente do que outro que dela participa movendo-se. Ora, um corpo glorioso participa mais nobremente da divindade que qualquer outro corpo, Logo, como certos outros corpos permanecerão sem nenhum movimento, tais os corpos celestes, parece que com maior razão os corpos humanos.

4. Demais. ─ Agostinho diz, que a alma fundada em Deus nele fundará também o corpo, por consequência. Ora, a alma estará de tal modo fundada em Deus, que de maneira nenhuma dele será movida. Logo, também não causará nenhum movimento no corpo.

5. Demais. ─ Quanto mais nobre for o corpo, tanto mais nobre será o lugar que merece. Por onde, o corpo de Cristo, que é nobilíssimo, terá o lugar mais eminente de todos, segundo aquilo do Apóstolo: Foi feito mais elevado que os céus ─ em lugar e dignidade, diz a Glosa. E semelhantemente, cada corpo glorioso terá, pela mesma razão, um lugar conveniente à medida da sua dignidade. Ora, o lugar conveniente é dos que pertencem à glória. Logo, como depois da ressurreição a glória dos santos não variará para mais nem para menos, por estarem no fim absolutamente último, parece que os corpos deles nunca se arredarão do seu lugar determinado. E portanto não se moverão.
 
Mas, em contrário, a Escritura: Correrão e não se fatigarão, voarão e não desfalecerão. E noutro lugar: Como faíscas por um canavial discorrerão. Logo, de certo modo se moverão os corpos gloriosos.

SOLUÇÃO. ─ Devemos admitir que os corpos gloriosos podem mover-se; pois, o próprio corpo de Cristo moveu-se na ascenção e também os corpos dos santos, que hão de ressurgir da terra, subirão ao céu empíreo. Mas mesmo depois de subidos ao céu, é verossímil que poderão mover-se quando quiserem, para, exercendo um poder que tem, proclamarem a sabedoria divina. E também para repastar a vista na beleza das várias criaturas em que eminentemente resplandece a sapiência de Deus. Porque os sentidos não podem exercer-se senão na presença de um sensível, embora os corpos gloriosos possam ver de mais longe que os não gloriosos. Nem por se moverem perderão nada da sua felicidade, consistente na visão de Deus, que terão presente em toda parte; assim, dos anjos diz Gregório, que sejam enviados para onde for não perdem nunca a presença de Deus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ O movimento local não altera em nada o que é intrínseco à natureza intrínseca do móvel, mas só a sua posição, que lhe é extrínseca. Por onde, o ser movido pelo movimento local fica perfeito na sua constituição intrínseca, como diz Aristóteles. E o movimento local revela a sua imperfeição pelo lugar que ocupa, pois, enquanto está num é potencial em relação a outro, porque não pode, como só é possível a Deus, estar em vários lugares ao mesmo tempo. Mas essa imperfeição não repugna à perfeição da glória, como não lhe repugna a imperfeição da criatura, saída do nada. Por onde, tais imperfeições existirão nos corpos gloriosos.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ De dois modos podemos dizer que um ser precisa de outro: absoluta e relativamente falando. Absolutamente falando um ser precisa daquilo sem o que não pode conservar a sua existência ou a sua perfeição. E assim não é por nenhuma indigência que os corpos gloriosos se moverão, pois plenamente lhes satisfaz a sua felicidade. Mas relativamente um ser precisa daquilo sem o que não pode alcançar completamente ou de tal modo o fim visado. E então será por indigência que se moverão os corpos gloriosos; pois, não poderão de fato manifestar a sua virtude motiva, senão movendo-se. Mas nenhum inconveniente há em os corpos gloriosos terem essa indigência.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ A objeção colheria se o corpo glorioso não pudesse, mesmo sem mover-se, participar da bondade divina muito mais perfeitamente que os corpos celestes ─ o que é falso. Por onde, os corpos gloriosos não se movem para poderem participar perfeitamente da bondade divina, da qual participam pela glória, mas para manifestarem uma virtude da alma. Pelo movimento dos corpos celestes porém não poderia manifestar-se senão a virtude que tem de mover os corpos inferiores para a geração ou para a corrupção; o que não cabe ao corpo no estado da glória. Logo, a objeção não procede.

RESPOSTA À QUARTA. ─ O movimento local nenhum detrimento causa à imobilidade da alma unida com Deus, pois não atinge a constituição intrínseca do móvel, como dissemos.

RESPOSTA À QUINTA. ─ É por um prêmio acidental que a cada corpo glorioso é atribuído um lugar segundo o grau da sua dignidade. Mas o estar ele fora desse lugar não lhe diminui em nada o prêmio pois, esse lugar não constitui prêmio, por envolver atualmente o corpo que o ocupa, porque em nada influi no corpo glorioso, mas ao contrário, participa-lhe do esplendor; mas enquanto, lhe é devido pelo seu mérito. Por isso, o gáudio resultante do lugar subsiste mesmo ao corpo glorioso que esteja fora dele.

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