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Art. 6 ─ Se o corpo glorioso em razão da sua subtileza é impalpável.

O sexto procede-se assim. ─ Parece que o corpo glorioso é impalpável em razão da sua subtileza.

1. ─ Pois, Gregório diz: O palpável é necessariamente corruptível. Ora, o corpo glorioso é incorruptível. Logo, será impalpável.

2. Demais. ─ Tudo o que é palpável opõe resistência a quem o apalpa. Ora, um corpo, que pode ocupar simultaneamente com outro um mesmo lugar, não lhe opõe nenhuma resistência. Logo, como um corpo glorioso pode ocupar simultaneamente com outro o mesmo lugar, não será palpável.

3. Demais. ─ Todo corpo palpável é tangível. Ora, todo corpo tangível tem qualidades tangíveis excedentes ao poder do agente que o toca. Logo, como as qualidades tangíveis dos corpos gloriosos nada tem de excessivo, mas são dotadas de um equilíbrio máximo, resulta que não são esses corpos tangíveis.

Mas, em contrário, o Senhor ressurgiu com um corpo glorioso; e contudo teve um corpo palpável, conforme aquilo do Evangelho: Apalpai e vede, que um espírito não tem carne nem ossos. Logo, também os corpos gloriosos serão palpáveis.

2. Demais. ─ É a heresia de Eutíquio Constantinopolitano bispo, como refere Gregório, afirmar que o nosso corpo ressurrecto será impalpável.

SOLUÇÃO. ─ Todo corpo palpável é tangível, mas não ao inverso. Pois, tangível é todo corpo que tem qualidades naturais capazes de afetar o sentido do tato; assim, o ar, o fogo e corpos semelhantes são corpos tangíveis. Mas a idéia de palpável acrescenta o poder de resistir ao corpo tangente; por isso, o ar, que nunca opõe resistência a quem o atravessa, mas é de uma divisão facílima, é tangível, mas não palpável. Por onde é claro que por duas razões dizemos que um corpo é palpável: pelas suas qualidades tangíveis e pela resistência que opõe a ser atravessado pelo agente que o toca. Ora, as qualidades tangíveis são o calor, o frio e outras semelhantes, que só existem nos corpos graves e nos leves, que tem contrariedade entre si e por isso são corruptíveis. Por isso os corpos celestes, por natureza incorruptíveis, podem ser atingidos pela vista, mas não tangíveis e, portanto, nem palpáveis. Daí o dizer Gregório, que necessariamente é corruptível tudo o que é palpável.
 
Logo, o corpo glorioso tem por natureza qualidades capazes de atingir o tato. Contudo, como esse corpo está completamente sujeito ao espírito, do seu poder depende que essas qualidades atinjam ou não o tato. Semelhantemente, por natureza pode opor resistência à penetração de qualquer outro corpo, de modo que não pode ocupar simultaneamente com este o mesmo lugar. Mas isto pode dar-se milagrosamente por obra do poder divino, de modo que, conforme à sua vontade, possa ocupar simultaneamente com outro o mesmo lugar sem opor resistência à penetração deste. Por onde, um corpo glorioso é por natureza palpável; mas, por virtude sobrenatural, pode, quando quiser, não se deixar tocar por um corpo não-glorioso. Por isso Gregório acrescenta: O Senhor consentiu que o seu corpo fosse tocado, esse mesmo corpo que atravessou portas fechadas, para mostrar que, depois da ressurreição, o seu corpo tinha a mesma natureza, mas uma glória diferente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ A incorruptibilidade do corpo glorioso não vem da natureza de nenhuns elementos componentes, que torna corruptível todo corpo susceptível de ser tocado, como do sobredito resulta. Logo, a objeção não colhe.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Embora de algum modo seja possível um corpo glorioso ocupar um lugar ocupado ao mesmo tempo por outro, contudo tal corpo tem o poder de resistir a qualquer tangente quando quiser. E portanto pode ser tocado.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ As qualidades tangíveis dos corpos gloriosos não reduzem à mediania real pela equidistância dos extremos; mas a uma mediania proporcional, a mais conveniente a cada uma das partes na compleição do corpo humano. Por isso o contato com tais corpos será deleitabilissimo; porque uma potência se compraz sempre com o objeto que lhe convém, e sorri com o que lhe é desproporcionado.

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