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Art. 5 ─ Se tudo o que as partes do corpo humano tinham de material ressuscitará.

O quinto discute-se assim. ─ Parece que tudo o que as partes do corpo humano tinham de material ressuscitará.

1. ─ Pois, menos são susceptíveis de ressurreição os cabelos que os outros órgãos. Ora, toda a matéria dos cabelos ressuscitará, embora não nos cabelos, ao menos nas outras partes do corpo, como diz Agostinho. Logo e com maior razão, tudo o que de material encerravam os outros órgãos ressurgirá.

2. Demais. ─ Assim como as partes específicas do corpo são aperfeiçoadas pela alma racional, assim também as partes materiais. Ora, o corpo humano é destinado à ressurreição por ter sido aperfeiçoado pela alma racional. Logo, não só as partes específicas, mas também as materiais ressurgirão.

3. Demais. ─ A totalidade do corpo vem donde lhe procede a divisão em partes. Ora, a divisão de um corpo em partes se funda na sua matéria, que forma pela sua disposição a quantidade, objeto da divisão. Logo, também a totalidade corpórea se funda nas partes da matéria. Portanto, nem todas as partes da matéria ressurgindo também não ressurgirá o corpo na sua totalidade. O que é inadmissível.

Mas, em contrário. ─ As partes materiais do corpo não permanecem, mas se transformam continuamente, como o prova Aristóteles. Se, portanto, todas as partes materiais ressurgirem, o corpo ressurrecto será excessivamente denso ou de desmesurada quantidade.

2. Demais. ─ Tudo o pertencente verdadeiramente à natureza de um corpo humano pode vir a constituir a matéria do corpo de outro homem que do primeiro se nutriu. Se portanto todas as partes materiais do corpo humano ressurgirem, resulta que ressurgirá em um o que verdadeiramente pertence à natureza humana de outro. O que é inadmissível.
 
SOLUÇÃO. ─ A parte material do homem não se destina à ressurreição senão enquanto realmente pertencente à natureza humana; porque assim está ligada a alma racional. Ora, o todo material humano pertence por certo verdadeiramente à natureza humana pelo que tem de específico; mas não totalmente, levada em conta a matéria da totalidade; porque toda a matéria que existiu num indivíduo humano, desde o princípio até o fim da sua vida, excederia as proporções especificas do seu corpo, como pretende a terceira opinião, que me parece a mais provável das três. Por onde, o todo humano ressurgirá, considerada a totalidade específica, fundada na quantidade, na figura, na situação e na ordem das partes; mas não ressurgirá todo, se se considera como todo a totalidade da matéria. ─ A segunda opinião, porém, e a primeira não entram nessa distinção; mas distinguem entre as partes, cada uma das quais tem espécie e matéria. Mas essas duas opiniões convêem em ensinarem que o todo gerado do sêmen ressurgirá, mesmo considerada como tal a totalidade material. Mas diferem em dizer a primeira que nada ressurgirá do gerado pela alimentação; o que por certo ressurgirá, pondera a segunda, mas não totalmente, como do sobredito se colhe.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Assim como tudo o existente nas outras partes do corpo ressurgirá, considerada a totalidade especifica, mas não a totalidade material, o mesmo se dará com os cabelos. Ora, às outras partes algo se lhes acrescenta pela nutrição, que produz o crescimento; e isso se conta como outra parte, considerada a totalidade específica, porque ocupa no corpo outro lugar e outra situação, e constitui a substância das outras partes da dimensão. Mas algo se lhe acrescenta que não produz crescimento, aplicando-se apenas em compensar pela nutrição as perdas; e não é computado como outra parte do todo considerado especificamente, pois não ocupa outro lugar nem outra situação no corpo, diferentes do que ocupava a parte que desapareceu. Embora possamos contá-la como outra parte, considerada a totalidade material. Ora, o mesmo se dá com os cabelos. Mas Agostinho se refere aos cabelos cortados durante a vida, que eram partes susceptíveis de crescimento. Que por isso hão de necessariamente ressurgir; não que devam se acrescentar aos outros cabelos, para não ficar desmesurada a quantidade deles, mas às outras partes, como o julgar necessário a divina providência. ─ Ou se refere ao caso de serem deficientes as outras partes; pois então essa deficiência poderá ser suprida pelo excesso de cabelos.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Conforme à terceira opinião, as mesmas são as partes específicas e as materiais. Nem o Filósofo recorre a essa distinção para introduzir diversidade nas partes, mas para mostrar que as mesmas partes podem ser consideradas especificamente, pelo que tem de forma e de espécie; e materialmente, como constituindo o substrato da forma e da espécie. Pois, a matéria da carne não se ordena à alma racional, senão enquanto tem uma determinada forma. E por essa razão se ordena a ressurgir. ─ A primeira e a segunda opinião, porém, professando a diferença entre as partes específicas e as naturais, dizem que a alma racional, embora aperfeiçoe ambas essas partes, não aperfeiçoa contudo as partes materiais senão mediante as partes específicas. Por isso não se ordenam elas igualmente à ressurreição.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ As dimensões indeterminadas se concebem necessariamente, na matéria dos seres sujeitos à geração e à corrupção, antes da recepção da forma substancial. Por isso a divisão fundada nessas dimensões pertence propriamente à matéria. Mas a quantidade completa e determinada a quantidade a recebe depois da sua união com a forma substancial. Por onde, a divisão feita em formas determinadas respeita a espécie; sobretudo quando a idéia de espécie implica, como no corpo humano, situações determinadas das partes.

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