O primeiro discute-se assim. ─ Parece que a ressurreição ele Cristo não é a causa da nossa ressurreição.
1. ─ Pois, posta a causa, segue-se o efeito. Ora, a ressurreição de Cristo não se seguiu imediatamente a dos outros mortos. Logo, a sua ressurreição não é a causa da nossa.
2. Demais. ─ Todo efeito é necessariamente seguido da causa. Ora, os outros mortos ressurgiriam, mesmo que Cristo não tivesse ressurgido, porque podia libertar o homem de outro modo. Logo, a ressurreição de Cristo não é a causa da nossa.
4. Demais. ─ O efeito conserva alguma semelhança da causa. Ora, a ressurreição, pelo menos a dos maus, em nada se assemelha à de Cristo. Logo, a ressurreição de Cristo não será a causa da ressurreição deles.
Mas, em contrário. ─ O que é primeiro em um gênero é causa do que vem depois, como diz Aristóteles. Ora, Cristo, por causa da ressurreição do seu corpo, a Escritura lhe chama as primícias dos que dormem e o primogênito dos mortos. Logo, a sua ressurreição é a causa da dos outros.
2. Demais. ─ A ressurreição de Cristo mais convém com a do nosso corpo que com a da nossa alma, operada por meio da justificação. Ora, a ressurreição de Cristo é a causa da nossa justificação, conforme ao Apóstolo, quando diz, que ressuscitou para nossa justificação. Logo, a ressurreição de Cristo é a causa da do nosso corpo.
SOLUÇÃO. ─ Cristo, em razão da natureza humana, o Apóstolo lhe chama mediador entre Deus e os homens. Por isso os dons divinos promanam de Deus para os homens, mediante a humanidade de Cristo. Ora, assim como não podemos ser libertos da morte espiritual senão pelo dom da graça divina, assim também só a ressurreição operada pelo poder divino é que nos poderá libertar da morte do corpo. Por onde, assim como Cristo recebeu pela sua natureza humana as primícias da graça divina, e a sua graça é a causa da nossa ─ pois, todos nós participamos da sua plenitude, e graça por graça ─ assim a ressurreição começou com Cristo e a sua é a causa da nossa. De modo que Cristo, enquanto Deus, é como a causa equívoca da nossa ressurreição; mas, enquanto Deus e homem ressurrecto é da nossa ressurreição a como causa próxima e unívoca.
Ora, a causa unívoca, quando obra, produz um efeito semelhante à sua forma. Por onde, não somente é causa eficiente, mas também exemplar desse efeito. O que de dois modos pode se dar. ─ Às vezes pode a forma, onde se funda a semelhança entre o agente e o seu efeito, ser o princípio direto da ação que produz esse efeito; tal o calor do fogo no corpo aquecido. ─ Outras vezes porém, o princípio primário é essencial da ação produtora do efeito não é a forma em si mesma, fundamento da semelhança, mas sim os princípios dessa forma. Assim, se um homem branco gerasse outro homem branco, a brancura do gerador não seria em si mesma o princípio ativo da geração; e contudo dizemos que essa brancura é a causa do ser gerado, porque os princípios da brancura no gerador são os princípios geradores, que causam a brancura no ser gerado.
E deste modo a ressurreição de Cristo é a causa da nossa ressurreição. Porque a mesma virtude da divindade de Cristo, que lhe é comum com o Pai, e que é a causa da ressurreição de Cristo, contribui também para a nossa ressurreição, da qual é a causa eficiente unívoca. Donde o dito do Apóstolo: Aquele que ressuscitou dos mortos a Jesus Cristo também dará vida aos vossos corpos mortais. Ora, a ressurreição mesma de Cristo, causada pelo poder divino inerente a Cristo, é a quase causa instrumental da nossa ressurreição. Pois, Cristo enquanto Deus obrava mediante o seu corpo como instrumento, conforme o ensina Damasceno, fundado no exemplo do contato corpóreo com que m unificou o leproso.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Uma causa suficiente a produzir o seu efeito, ao qual é imediatamente ordenado, imediatamente o produz. Não porém o efeito ao qual se ordena mediante outro, por mais suficiente que seja para produzi-lo. Assim o calor, por intenso que seja, não causa o calor imediata e instantaneamente, mas a sua primeira ação é mover para calor, porque o calor produz o calor mediante movimento. Ora, a ressurreição de Cristo é chamada causa da nossa, não que por si mesma a produza, mas só mediante o seu principio ─ a virtude divina, que será a causa da nossa ressurreição, à semelhança da de Cristo. Ora, a virtude divina tudo obra mediante a vontade, muito mais próxima do efeito. Por onde, não é necessário que à ressurreição de Cristo imediatamente suceda a nossa; mas basta que tal se de quando a vontade de Deus o ordenar.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ A virtude divina não depende de nenhumas causas segundas, que não possa produzir imediatamente, ou mediante outras causas segundas, os efeitos delas. Assim, poderia causar a geração dos corpos inferiores, mesmo que não existisse o movimento do céu. Contudo, pela ordem universal, que estabeleceu o movimento do céu, é a causa da geração dos seres terrestres. Semelhantemente, de acordo com a ordem que a providência prefixou às cousas humanas, a ressurreição de Cristo é a causa da nossa. Mas podia ter estabelecido outra ordem. E então a causa da nossa ressurreição seria outra, que Deus ordenasse.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ A objeção procede quando todos os seres de uma mesma espécie tem a mesma relação com a causa primeira do efeito, que deve ser produzido na totalidade dessa espécie. Ora, tal não se dá no caso vertente. Porque a humanidade de Cristo está mais chegada à divindade, cujo poder é a causa primeira da ressurreição, do que a humanidade dos outros homens. Por isso a ressurreição de Cristo é causada pela divindade imediatamente; ao passo que a ressurreição dos outros homens, mediante a ressurreição de Cristo homem.
RESPOSTA À QUARTA. ─ A ressurreição de todos os homens terá algo de semelhante à de Cristo, porque todos se assemelham com ele pela vida natural. Por isso todos com ele ressurgirão para uma vida imortal. Mas os santos, semelhantes a Cristo pela graça, terão também a sua ressurreição semelhante à de Cristo, no concernente a glória.