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Art. 9 ─ Se as almas dos mortos podem ser socorridas só, ou sobretudo, pelas orações da Igreja, pelo sacrifício do altar e pelas esmolas.

O nono discute-se assim. ─ Parece que não só, nem sobretudo, as almas dos mortos podem ser socorridas pelas orações da Igreja, pelo sacrifício do altar e pelas esmolas.

1. ─ Pois, uma pena deve ser compensada por outra. Ora, o jejum é maior pena que a esmola ou a oração. Logo, mais aproveita o jejum, como sufrágio, que qualquer das obras referidas.

2. Demais. ─ Gregório enumera o jejum entre os outros sufrágios, quando diz: As almas dos mortos podem ser livradas pelos quatro modos seguintes ─ as oblações dos sacerdotes; a esmola dos amigos, as preces dos santos e o jejum dos parentes. Logo, a tríplice enumeração referida, de Agostinho, é insuficiente.

3. Demais. ─ O batismo é o principalíssimo dos sacramentos, sobretudo pelo seu efeito. Logo, o batismo ou os outros sacramentos deveriam, ser celebrados pelos defuntos, como o sacramento do Altar, ou mesmo de preferência.

4. Demais. ─ Isto se conclui das palavras do Evangelho: Que farão os que se batizam pelos mortos se absolutamente os mortos não ressurgem? Logo, também o batismo vale como sufrágio pelos defuntos.

5. Demais. ─ O sacrifício do Altar é o mesmo em qualquer missa. Se, pois, o sacrifício é o enumerado entre os sufrágios e não a missa, parece que tem o mesmo valor qualquer missa dita por um defunto, quer a da Santa Virgem, quer a do Espírito Santo, quer outra qualquer. O que vai contra a disposição da Igreja, que instituiu uma missa especial pelos defuntos.

6. Demais. ─ Damasceno diz que se oferecem pelos defuntos cera, óleo e cousas semelhantes. Logo, não só na oblação do sacrifício do Altar mas também as demais oblações devem ser contadas entre os sufrágios pelos mortos.

SOLUÇÃO. ─ Os sufrágios dos vivos aproveitam aos mortos, primeiro, por estarem estes unidos pela caridade, e, segundo, por serem os mortos o objeto da intenção dos vivos. Por onde, são por excelência próprias a sufragar os mortos aquelas obras que supõem a comunicação da caridade ou a direção da intenção para terceiros. ─ Ora, a Eucaristia é por excelência o sacramento da caridade, pois, o sacramento da união eclesiástica; porque contém Cristo princípio da união e da consolidação da Igreja universal. Por isso a Eucaristia é como a origem ou o vínculo da caridade. Ora, entre os efeitos desta o mais principal é a obra da esmola. Por isso, quanto à caridade, servem sobretudo para sufragar os mortos as duas obras seguintes: o sufrágio da Igreja e a esmola. Quanto à intenção aplicada aos mortos, vale sobretudo a oração; porque esta, por natureza, não só respeita a quem ora, como as demais obras, mas e mais diretamente àquele por quem é feita. ─ Por isso, essas três obras se consideram como os principais socorros que os vivos podem prestar aos mortos; embora quaisquer outras boas obras feitas com caridade pelos defuntos, devemos crer que lhes aproveitem.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Em quem satisfaz por outro devemos considerar ─ para que o efeito da satisfação a este aproveite ─ antes, o meio pelo qual ela se aplica de um para outro, que a pena mesma da satisfação. Embora a pena em si mesma sirva mais de expiar o reato do satisfaciente, como remédio que é. Por isso as três obras referidas aproveitam aos defuntos, mais que o jejum.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Também o Jejum pode aproveitar aos defuntos em razão da caridade, e da intenção a eles aplicada. Mas o jejum nada contém, por natureza, que diga respeito à caridade ou à direção da intenção, cousas que lhe concernem apenas extrinsecamente. Por isso Agostinho não enumerou, ao contrário de Gregório, o jejum entre os sufrágios dos mortos.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ O batismo é uma regeneração espiritual. Por onde, assim como pela geração só adquire a existência o ser gerado, assim o batismo não produz a sua eficácia senão no batizado, enquanto obra de valor próprio (ex opere operato). Embora enquanto obra feita por um determinado agente (ex opere operantes) , quer este seja o batizante, quer o batizado, possa aproveitar a outrem, como o podem as demais obras meritórias. Quanto à Eucaristia, é um sinal da união eclesiástica. Por isso, considerada como obra de valor próprio (ex ipso opere operato) , a sua eficácia pode aproveitar a outrem. O que não se dá com os outros sacramentos.

RESPOSTA À QUARTA. ─ A Glosa expõe a autoridade citada em dois sentidos. Um sentido é o seguinte: Se os mortos não ressurgem nem ressurgiu Cristo, que farão os que batizam pelos mortos, i. é, pelos pecados; pois que estes não são perdoados se Cristo não ressurgiu. Porque no batismo opera não só a paixão mas também a ressurreição de Cristo, causa, de certo modo, da nossa ressurreição espiritual. ─ Outro sentido: Houve certos que, por ignorância, se faziam batizar por aqueles que partiram desta vida sem batismo, pensando que isso lhes aproveitasse. E, de conformidade com este sentido, as palavras citadas do Apóstolo se referem ao erro desses tais.

RESPOSTA À QUINTA. ─ O ofício da missa não é só um sacrifício mas também encerra orações; e satisfaz assim as duas condições exigidas por Agostinho. Como sacrifício oferecido, qualquer missa, p. ex. das referidas, aproveita igualmente aos defuntos, pois, o sacrifício é na missa o principal. Quanto às orações, as missas onde se rezam orações particulares pelos mortos mais lhes aproveitam. A falta de orações particulares pode entretanto ser compensada pela maior devoção do celebrante, ou de quem mandou celebrar, ou ainda pela intercessão do santo cujo sufrágio é implorado na missa.

RESPOSTA À SEXTA. ─ A oblação de candeias, óleo ou cousas semelhantes pode aproveitar ao defunto, consideradas como esmola; pois, oferecem-se para o culto da igreja ou também para uso dos fiéis.

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