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Art. 6 ─ Se outros vícios rompem, como a infidelidade, o matrimônio.

O sexto discute-se assim. ─ Parece que outros vícios rompem, como a infidelidade, o matrimônio.

1. Pois, o adultério é mais diretamente contra o matrimônio, que a infidelidade. Ora, a infidelidade dissolve em algum caso o matrimônio, de modo que seja possível contrair novo. Logo, o adultério produz o mesmo efeito.

2. Demais. ─ Assim como a infidelidade é a fornicação espiritual, assim também qualquer pecado o é. Se, pois, a infidelidade rompe o matrimônio por ser ela uma fornicação espiritual, pela mesma razão qualquer pecado deve dissolvê-lo.

3. Demais. ─ A Escritura diz: Se a tua mão direita te serve de escândalo, corta-a e lança-a fora de ti. Ao que diz a Glosa, que, por essas expressões ─ mão e olho direito ─ podem designar os irmãos, as esposas, os parentes próximos e os filhos. Ora, todo pecado nos constitui um impedimento. Logo, por qualquer pecado pode o matrimônio ser voto.

4. Demais. ─ A avareza é uma idolatria, como diz o Apóstolo. Ora, por idolatria pode uma mulher ser repudiada. Logo, por igual razão, por causa de avareza. E assim, também por outros pecados mais graves que a avareza.

5. Demais. É essa também a opinião expressa do Mestre das Sentenças.
 
Mas, em contrário, o Evangelho: Todo o que repudiar a sua mulher, a não ser por causa de fornicação, a faz adúltera.

2. Demais. ─ Se tal fosse verdade, todos os dias haveria divórcios, pois, é raro um matrimônio onde o outro cônjuge não cometa pecado.

SOLUÇÃO. ─ A fornicação corporal e a infidelidade tem uma contrariedade especial aos bens do matrimônio como do sobredito se colhe. Por onde, produzem o efeito especial de separar os cônjuges. Devemos porém compreender que de dois modos pode o sacramento ser dissolvido. ─ Primeiro, quanto ao vínculo. E então, não pode, depois de ratificado ficar dissolvido, nem pela infidelidade, nem pelo adultério. Mas, não sendo ratificado, fica roto o vínculo quando um dos cônjuges persiste na infidelidade, convertendo-se o outro à fé e convolando a segundas núpcias. Mas o referido vínculo não se dissolve pelo adultério; do contrário um infiel poderia a seu bel prazer repudiar a esposa adúltera e depois casar com outra ─ o que é falso. ─ De outro modo, o matrimônio pode ser dissolvido, quanto ao seu ato. E assim pode ser voto tanto pela infidelidade como pela fornicação. Mas não o pode, por outros pecados, mesmo quanto ao seu ato; salvo se o marido quiser temporariamente separar-se da convivência com a esposa, privando-a do benefício na sua presença, para castigá-la.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Embora o adultério se oponha mais diretamente ao matrimônio, enquanto função da natureza, que a infidelidade, contudo o contrário se dá, enquanto sacramento da Igreja, donde tira a sua perfeita estabilidade por significar a indivisível união entre Cristo e a Igreja. Por onde, o vínculo do matrimônio não ratificado pode ser dissolvido mais pela infidelidade do que pelo adultério.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ A primeira união da alma com Deus é pela fé. E assim, por ela, a alma é como unida com Deus, conforme aquilo da Escritura. E me desposarei contigo na fé. Por isso a Sagrada Escritura especialmente designa pela fornicação a idolatria e a infidelidade. Ao passo que os outros pecados se chamam fornicações espirituais, numa significação mais remota.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Devemos assim entendê-lo quando a mulher é para o marido uma ocasião muito próxima de pecado, a ponto de este temer seriamente riscos à sua salvação. Pois, então poderá deixar de conviver com ela, como dissemos.

RESPOSTA À QUARTA. ─ A avareza se chama idolatria por uma certa semelhança de escravidão; pois, tanto o avarento como o idólatra servem antes à criatura, que ao Criador. Mas não por semelhança de infidelidade, porque a corrupção da infidelidade está no intelecto, ao passo que a da avareza, no afeto.

RESPOSTA À QUINTA. - As palavras do Mestre se entendem dos esponsais; pois, um crime sobreveniente pode rompê-los. Ou, se referidas ao matrimônio, entendem-se da separação temporária da vida em comum, como se disse. Ou quando a mulher não quer coabitar senão com a condição de pecar e quando diz: não serei tua esposa se não me deres riquezas furtadas por ti. Pois, nesse caso,deve antes repudiá-la, que exercer o latrocínio.

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