O primeiro discute-se assim. ─ Parece que a confissão não livra da morte do pecado.
1. ─ Pois, a confissão vem depois da contrição. Ora, a contrição apaga suficientemente a culpa. Logo, a confissão não livra da morte do pecado.
2. Demais. ─ Como o pecado mortal é culposo, também o venial. Ora, pela confissão torna-se venial o que antes era mortal, como diz a letra do Mestre das Sentenças. Logo, pela confissão não fica perdoada a culpa, mas uma culpa se muda em outra.
Mas, em contrário. ─ A confissão faz parte do sacramento da penitência. Ora, a penitência livra da culpa. Logo, também a confissão.
SOLUÇÃO. ─ A penitência, enquanto sacramento, sobretudo se perfaz na confissão; pois que por ela nós nos sujeitamos aos ministros da Igreja, que são os dispensa dores dos sacramentos. Pois, a contrição vai junta com o desejo da confissão; e a satisfação é determinada pelo juízo do sacerdote, a quem a confissão é feita. E como o sacramento da penitência infunde a graça, pela qual se faz a remissão dos pecados, como no batismo, por isso e do mesmo modo a confissão, por força da absolvição anexa, perdoa a culpa, como o faz o batismo. Mas o batismo livra da morte do pecado; não só quando atualmente recebido, mas também enquanto já está no nosso desejo. Talo caso dos que se achegam aos batismos já santificados. E se nenhum obstáculo o impedisse, a própria colação do batismo daria a graça que perdoa os pecados, se já antes não tivessem sido remitidos. E o mesmo devemos dizer da confissão preexistente acompanhada da absolvição; a qual, enquanto já no desejo do penitente, era suficiente a livrar da culpa; mas depois, no ato da confissão e da absolvição, aumenta a graça. E então obteria o confitente perdão dos pecados, se a dor precedente deles não fosse suficiente para haver contrição, e ele não opusesse então nenhuma resistência à graça. Por onde, assim como dizemos que o batismo livra da morte, assim também podemos dizê-lo da confissão.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ A contrição vai junta com o desejo da confissão. E por isso livra da culpa os penitentes como o desejo do batismo, os batizandos.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O pecado venial não é aí tomado no sentido da culpa, mas no de uma pena facilmente expiável. Donde, não se segue que uma culpa se converta em outra; mas é antes, totalmente apagada. Pois, em três sentidos podemos tomar o pecado venial: genericamente, como uma palavra vã; casualmente, isto é, por ter em si causa de vênia, como o pecado cometido por fraqueza; e enfim, eventualmente, como no caso vertente, pois da confissão provém o conseguirmos vênia do pecado passado.