Skip to content

Art. 1 ─ Se a confissão é necessária à salvação.

O primeiro discute-se assim. ─ Parece que a confissão não é necessária à salvação.
 
1. Pois, o sacramento da penitência foi ordenado à remissão da culpa. Ora, a culpa é suficientemente perdoada pela infusão da graça. Logo, para fazer penitência do pecado não é necessária a confissão.
 
2. Demais. O pecado que contraímos e tem em outro a sua causalidade deve receber desse outro o seu remédio. Logo, o pecado atual, que de movimento próprio cometemos, é necessário receba só de nós mesmos o seu remédio. Ora, a sanar esse pecado é que se ordena a penitência. Logo, a confissão não é necessária para a penitência.
 
3. Demais. ─ A certos lhes foi o pecado perdoado sem que deles leiamos que tivessem confessado; tal o caso de Pedro, de Madalena e também de Paulo. Ora, a graça de remitir os pecados não tem agora menor eficácia do que tinha então. Logo, nem é agora de necessidade para a salvação, que confessemos.
 
4. Demais. A confissão é exigida, no juízo, para ser infligida a pena, segundo a quantidade da culpa. Ora, podemos nos infligir a nós mesmos uma pena maior que a que nos fosse infligida por outro. Logo, parece que a confissão não é necessária à salvação.
 
Mas, em contrário. Boécio diz: Se queres ser curado pelo médico é necessário que lhe descubras o teu mal. Ora, necessário à salvação é que recebamos um remédio aos nossos pecados. Logo, também é de necessidade à salvação que descubramos a nossa doença pela confissão.
 
2. Demais. No juízo secular não é o juiz o mesmo que o réu. Ora, o juízo espiritual é mais ordenado. Logo, o pecador, que é o réu, não deve ser juiz de si mesmo, mas deve ser julgado por outro. Portanto, é necessário que lhe confesse.
 
SOLUÇÃO. A paixão de Cristo, sem cuja virtude não pode ser perdoado o pecado original nem o atual, em nós opera pela recepção dos sacramentos, que dela tiram a sua eficácia. Por onde, para a remissão da culpa, tanto atual como original, é necessário o sacramento da Igreja ou atualmente recebido; ou pelo menos em desejo, se o que exclui o sacramento for, não o desprezo, mas a injunção da necessidade. E por consequência, os sacramentos ordenados contra a culpa, com a qual não pode haver salvação, são de necessidade para a salvação. E portanto, assim como o batismo, pelo qual é apagado o pecado original, é de necessidade para a salvação, assim também o é o sacramento da penitência. E assim como quem pede o batismo se submete aos ministros da Igreja, a quem pertence dispensar o sacramento, assim também, confessando o seu pecado, sujeita-se ao ministro da Igreja afim de alcançar o perdão, mediante o sacramento da penitência por êle dispensado. E o ministro não pode aplicar o remédio conveniente se não conhecer o pecado o que se dá pela confissão do pecador. Por onde, a confissão é de necessidade para a salvação daquele que caiu em pecado mortal atual.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO, A infusão da graça basta para a remissão da culpa; mas, depois da culpa perdoada, o pecador ainda é devedor da pena temporal. Mas, para se conseguir a infusão da graça foram ordenados os sacramentos da graça, e antes de os recebermos, atual ou intencionalmente,não alcançamos a graça, como se dá no batismo, O mesmo passa com a confissão. E além disso: pelo pejo da confissão; pelo poder das chaves, a que se o confitente sujeita; pela satisfação que vai junta e que o sacerdote modera segundo a qualidade dos pecados de que tomou conhecimento na confissão ─ fica expiada a pena temporal. ─ Mas do facto de a confissão obrar para o perdão da pena não se deduz que seja de necessidade para a salvação; porque é temporal a pena a que permanecemos ligados depois do perdão da culpa; portanto, mesmo sem a expiação feita nesta vida, haveria caminho para a salvação. Mas é de necessidade para a salvação por operar a remissão da culpa ao modo referido.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. O pecado contraído por obra de outrem, isto é, o original, pode absolutamente ter um remédio externo, como se dá com as crianças. Mas o pecado atual, que por si mesmo o pecador cometeu, não pode ser expiado se não houver alguma cooperação do pecador. Contudo não basta por si mesmo para expiar o pecado, assim como por si mesmo foi suficiente para cometê-lo. Porque o pecado, por parte da conversão, é finito, e foi por essa conversão que o pecador abraçou o pecado; mas é infinito por parte da aversão, sendo por aí que há de começar a remissão do pecado, pois, o último na geração é o primeiro na resolução, como diz Aristóteles. Por onde e necessariamente há de o pecado atual receber de outrem o seu remédio.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. Embora não tenhamos notícia da confissão dessas personagens citadas, contudo ela bem pode ter-se realizado; pois, muitas coisas se fizeram, que não estão escritas. ─ E além disso, Cristo tem o poder de excelência nos sacramentos. Por onde, sem o pertinente ao sacramento, podia conferir a realidade dele.
 
RESPOSTA À QUARTA. A satisfação não bastaria para expiar a pena do pecado, pela quantidade da pena que se impõe como satisfação; mas basta enquanto parte do sacramento, a virtude sacramental. Por onde, é necessário sejam os sacramentos ministrados por dispensadores. E portanto a confissão é necessária.

AdaptiveThemes