O quinto discute-se assim. ─ Parece que devemos ter contrição dos pecados alheios.
1. ─ Pois, ninguém pede perdão a não ser do pecado de que está contrito. Ora, na Escritura se pede perdão dos pecados alheios: Perdoa ao teu servo os alheios. Logo, devemos ter contrição dos pecados alheios.
2. Demais. ─ É dever de caridade amar ao próximo como a si mesmo. Ora, o amor de nós mesmos, nos leva a nos afligir dos nossos males e desejar o que nos é bom. Logo, estando obrigado a desejar ao próximo, como a nós mesmos, o bem da graça, parece que devemos ter, como dos nossos, dor pelos pecados deles. Ora, a contrição não é senão a dor dos pecados. Logo, devemos ter contrição dos pecados alheios.
Mas, em contrário. ─ A contrição é um ato da virtude de penitência. Ora, ninguém se penitência senão de atos que praticou. Logo, ninguém pode ter contrição de pecados alheios.
SOLUÇÃO. ─ O que se tritura é o que antes era duro e íntegro. Por onde e necessàriamente, a contrição do pecador deve recair sobre o mesmo que fora, antes, a dureza dele. Assim, não pode haver contrição dos pecados alheios.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ O profeta roga lhe sejam perdoados os pecados alheios, enquanto que a convivência dos pecados nos leva a consentir na contaminação da macula pecaminosa. Por isso diz a Escritura: Serás perverso com o perverso.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Devemos ter dor dos pecados alheios. Mas não é preciso termos contrição deles; porque nem toda dor dos pecados passados é contrição, como do sobredito se colhe.