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Art. 3 — Se Deus é o que primariamente é conhecido pela mente humana.

(In Boet., De Trin., q. 1, a. 3).
 
O terceiro discute-se assim. ― Parece que Deus é o que primariamente é conhecido pela mente humana.
 
1. ― Pois aquilo pelo qual todas as outras coisas são conhecidas e pelo que as julgamos, é primariamente conhecido por nós; assim, a luz, pelos olhos, e os primeiros princípios, pelo intelecto. Ora, à luz da verdade primeira conhecemos e julgamos todas as coisas, como diz Agostinho. Logo, Deus é o que primariamente é conhecido por nós.
 
2. Demais. ― O que faz uma coisa ser o que é, tem, primariamente, as qualidades desta. Ora, Deus é a causa de todo o nosso conhecimento; pois, como diz a Escritura (Jo 1, 9), é luz verdadeira que ilumina todo homem vindo a este mundo. Logo, Deus é o que primariamente e em máximo grau é conhecido por nós.
 
3. Demais. O que é primariamente conhecido, em imagem, é o exemplar pelo qual é formada. Ora, a nossa mente é a imagem de Deus, como diz Agostinho. Logo, o que primariamente é conhecido pro ela é Deus.
 
Mas, em contrário, diz a Escritura (Jo 1, 18): Ninguém jamais viu a Deus.
 
Solução. ― Como o intelecto humano ao estado da vida presente, não pode inteligir as substâncias imateriais criadas, conforme já se disse (a. 1); não pode, com maior razão, inteligir a essência da substância incriada. Por onde, deve-se dizer, simplesmente, que Deus não é o que primariamente é conhecido por nós; mas, antes, pelas criaturas é que chegamos ao conhecimento de Deus, segundo aquilo da Escritura (Rm 1, 20): As coisas invisíveis de Deus vêm-se, consideradas pelas coisas que foram feitas. E o que primariamente é inteligido por nós, no estado da vida presente, é a qüididade da coisa material, do objeto do nosso intelecto, como muitas vezes já se disse.
 
Donde a resposta à primeira objeção. ― À luz da verdade primeira inteligimos e julgamos tudo, enquanto a luz mesma do nosso intelecto, natural ou gratuita, não é senão uma certa impressão da verdade primeira, como antes se disse (q. 84, a. 5). Por onde, como essa luz do nosso intelecto não está para este como o que é inteligido, mas como o por que se intelige, com maior razão Deus não é o que primariamente é inteligido pelo nosso intelecto.
 
Resposta à segunda. ― O dito: o que faz uma coisa ser o que é tem, primariamente, as qualidades desta, deve ser entendido de seres de uma mesma ordem, como antes se disse (q. 87, a. 2, ad 3). Ora, as coisas são conhecidas por causa de Deus; não porque Deus seja o primeiro conhecido, mas porque é a causa primeira da virtude cognoscitiva.
 
Resposta à terceira. ― Se a nossa alma fosse a perfeita imagem de Deus, como o filho é do Pai, a nossa alma inteligiria Deus imediatamente. Ora, como é uma imagem imperfeita, a objeção não colhe.

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