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Art. 3 — Se as espécies remanescentes neste sacramento podem alterar a matéria exterior.

O terceiro discute-se assim. — Parece que as espécies remanescentes neste sacramento não po­dem alterar a matéria exterior.
 
1. — Pois, como Aristóteles o prova, as for­mas unidas à matéria são produzidas por outras também na matéria existentes, e não por formas sem matéria; porque o semelhante produz o seu semelhante. Ora, as espécies sacramentais são espécies sem matéria; pois, remanescem sem su­jeito, como do sobre dito se colige. Logo nenhuma alteração podem causar na matéria exterior, in­fundindo-lhe alguma forma.
 
2. Demais. — Cessada a ação do agente principal, necessàriamente cessa a ação do instrumento. Assim, cessada a ação do ferreiro, cessa a do martelo. Ora, todas as formas aciden­tais agem como instrumentos, em virtude da forma substancial, agente principal. Logo, não per­manecendo neste sacramento a forma substan­cial do pão nem a do vinho, como se demonstrou, resulta que as formas acidentais remanescentes não podem alterar a matéria exterior.
 
3. Demais. — Nenhum ser age mais do que o permite a sua espécie, porque o efeito não pode ser superior à causa. Ora, todas as espécies sa­cramentais são acidentes. Logo, não podem alte­rar a matéria exterior, pelo menos na forma substancial.
 
Mas, em contrário, se não pudessem alterar a matéria exterior, não poderiam ser percebidas; ora, um objeto é percebido porque o sentido é alterado pelo sensível, como diz Aristóteles.
 
SOLUÇÃO. — Todo ser, agindo enquanto atual, resulta por consequência que cada ser, assim como existe, assim age. Ora, segundo o que foi dito, as espécies sacramentais o poder divino permite que conservem o ser que tinham, en­quanto existia a substância do pão e a do vinho. Logo, também lhes permite conservem a sua atividade. Por onde, todas ação que podiam exercer enquanto existia a substância do pão e a do vinho, continuam a podê-lo, quando as subs­tâncias do pão e do vinho se transformaram no corpo e no sangue de Cristo. Não há, portanto nenhuma dúvida, que podem alterar os corpos externos.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — As espécies sacramentais, embora sejam formas existentes sem matéria, conservam contudo, o mesmo ser que tinham anteriormente na maté­ria. Logo, têm um ser assimilável às formas existentes na matéria.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A ação da forma aci­dental depende da ação da forma substancial, assim como o ser do acidente depende do da substância. Por onde, assim como por virtude di­vina as espécies sacramentais podem existir sem a substância, assim também podem agir sem a forma substancial, por virtude de Deus, de quem, como do agente primeiro depende totalmente a atividade da forma, tanto substancial como acidental.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — A alteração sofrida pela substancial não é operada pela forma subs­tancial imediata, mas mediante as qualidades ativas e passivas, que agem em virtude da forma substancial. Ora, essa virtude instrumental se conserva nas espécies sacramentais, por virtude divina, como era dantes. Por isso podem agir como instrumento, para armar uma forma subs­tancial. Por cujo modo, um ser pode agir ultrapassando a sua espécie, não por virtude própria, mas em virtude do agente principal.

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