(II Sent., dist. XI, part. II, a. 5; IV, dist. XLV, q. 3, a. 3, ad 3).
O oitavo discute-se assim. — Parece que entre os anjos não pode haver luta nem discórdia.
1. — Pois diz a Escritura: que mantém a concórdia nas suas alturas. Ora, a luta se opõe à concórdia. Logo, entre os anjos sublimes não há luta.
2. Demais. — Onde há perfeita caridade e justa superioridade não pode haver luta. Ora, assim é entre os anjos. Logo, não pode entre eles haver luta.
3. Demais. — Se se disser que os anjos lutam pelos que guardam, necessário é que um anjo favoreça uma parte e outro, outra. Ora, se com uma está a justiça, com outra estará a injustiça. Donde resulta que um anjo bom será fautor da injustiça, o que é inadmissível.
Logo, entre os bons anjos não há luta.
Mas, em contrário, diz a Escritura, da pessoa de Gabriel: O príncipe do reino dos Persas resistiu-me durante vinte e um dias. Ora, esse príncipe dos Persas era um anjo deputado à guarda do reino persa. Logo, um anjo resiste a outro e, portanto, há entre eles luta.
Solução. — Esta questão foi suscitada a propósito das palavras de Daniel, que acabamos de citar. — E Jerônimo as explica, dizendo que o príncipe do reino dos Persas era um anjo, que se opunha à libertação do povo de Israel, pelo qual Daniel orava, sendo a sua oração apresentada a Deus por Gabriel. E tal oposição podia ter-se dado, porque algum príncipe dos demônios tivesse induzido a pecado os judeus, levados para a Pérsia, o que era um obstáculo à oração de Daniel, pelo mesmo povo. — Mas, segundo Gregório, o príncipe do reino dos Persas era um anjo bom, deputado à guarda desse reino. — Para compreender-se porém como um anjo pode resistir a outro, deve-se considerar, que os juízos divinos relativos aos diversos reinos e aos diversos homens executam-se pelos anjos. Ora, embora, estes, nas suas ações, rejam-se pela ordem divina, acontece às vezes que, relativamente aos diversos reinos ou aos diversos homens, existem méritos ou deméritos contrários de modo que um é inferior ou superior a outro. Como porém não podem saber porque a ordem da divina Sapiência determinou assim, sem que Deus lhos revele, tem os anjos necessidade de consultar essa sabedoria. Assim pois, enquanto consultam a divina vontade, sobre os méritos contrários e que se lhes opõem, diz-se que resistem uns aos outros; não que tenham vontades contrárias, pois são todos concordes em cumprir a ordem de Deus, mas porque são opostas as coisas sobre que consultam.
Donde se deduzem as respostas às objeções.