(II Sent., dist., XI, part. I, a. 4).
O sexto discute-se assim. — Parece que o anjo da guarda às vezes abandona o homem, à cuja guarda foi deputado.
1. — Pois, diz a Escritura, falando da pessoa dos anjos: Medicamos Babilônia, e ela não sarou, deixemo-la — e, noutro passo: Arrancar-lhe-ei a sebe, e ficará exposta ao roubo; e diz a Glossa, que isso se refere à guarda dos anjos.
2. Demais. — Deus guarda mais que o anjo. Ora, ele às vezes abandona o homem, conforme está na Escritura: Ó Deus, Deus meu, olha para mim; porque me desamparaste? Logo, com maior razão, o anjo da guarda abandona o homem.
3. Demais. — Como diz Damasceno, os anjos, estando conosco, neste mundo, não estão no céu. Ora, como às vezes estão no céu, às vezes nos abandonam.
Mas, em contrário. — Os demônios sempre nos atacam, conforme a Escritura: O demônio, vosso adversário, anda ao redor de vós como um leão que ruge, buscando a quem devorar. Logo, com maior razão, os bons anjos sempre nos guardam.
Solução. — A guarda dos anjos, como do sobredito se colhe, é uma execução da divina Providência relativa aos homens. Ora, é manifesto que nem o homem, nem ser algum pode subtrair-se totalmente à divina Providência; pois, na medida em que um ente participa da existência, nessa mesma está sujeito à providência universal dos seres. Diz-se porém que Deus, conforme a ordem da sua Providência, abandona o homem, na medida em que permite que este padeça alguma deficiência, quanto à pena ou à culpa. E semelhantemente, deve-se dizer que o anjo da guarda nunca abandona totalmente o homem; mas às vezes, o abandona na medida em que não impede entre em alguma tribulação, ou mesmo caia em pecado, conforme a ordem dos juízos divinos. E neste sentido, se diz que a Babilônia e a casa de Israel foram abandonadas dos anjos, porque os seus anjos da guarda não as livraram de caírem em tribulações. E daqui se deduzem as respostas a primeira e a segunda objeções.
Resposta à terceira. — Embora o anjo abandone às vezes o homem, localmente, não o abandona contudo quanto ao efeito da guarda; porque, mesmo quando está no céu, sabe o que deve fazer em relação ao homem; nem precisa de intervalo de tempo para locomover-se, mas pode estar presente imediatamente.