O primeiro discute-se assim. — Parece que os sacramentos não são necessários à salvação humana.
1. — Pois, diz o Apóstolo: O exercício corporal para pouco é proveitoso. O uso dos sacramentos é uma espécie de exercício corporal, porque os sacramentos se perfazem pela significação das coisas sensíveis e das palavras, como se disse. Logo, os sacramentos não são necessários à salvação humana.
2. Demais. — Ao Apóstolo foi dito: Basta-te a minha graça. Ora, não bastaria se os sacramentos fossem necessários à salvação humana. Logo, os sacramentos não são necessários à salvação humana.
3. Demais. — Posta a causa suficiente nada mais é necessário para o efeito. Ora, a Paixão de Cristo é a causa suficiente da nossa salvação. Assim, diz o Apóstolo: Se sendo nós inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida. Logo, os sacramentos não são necessários à salvação humana.
Mas, em contrário, Agostinho diz: Em nome de nenhuma religião, verdadeira ou falsa, podem os homens adunar-se, se não se associarem num consórcio sob a égide de sinais ou sacramentos visíveis. Ora, é-lhes necessário à salvação os homens se adunarem num nome de verdadeira religião. Logo, os sacramentos são necessários à salvação humana.
SOLUÇÃO. — Os sacramentos são necessários à salvação humana por três razões. - Das quais a primeira deve ser tirada da condição da natureza humana, a que é próprio partir do corpóreo e do sensível para chegar ao espiritual e ao Inteligível. Ora, concerne à divina Providência prover a cada ser conforme ao modo da sua condição. E por isso convenientemente a divina sabedoria confere ao homem os auxílios à salvação sob certos sinais corpóreos e sensíveis, chamados sacramentos. - A segunda razão deve ser tirada do estado do homem, que pelo pecado sujeitou o afeto às coisas corpóreas. Ora, onde padece uma doença aí se deve aplicar ao homem um remédio medicinal. Por isso era conveniente Deus mediante certos sinais corpóreos, aplicar ao homem uma medicina espiritual; pois, se lhe fossem dados remédios puramente espirituais, a sua alma, presa ao material, não poderia servir-se deles. - A terceira razão enfim deve ser haurida no exercício da ação humana, que versa principalmente sobre a matéria. Afim, pois, de não ser duro ao homem o separar-se totalmente dos atos corpóreos, foram-lhe propostos práticas sensíveis, nos sacramentos, com os quais salutarmente se exerce a evitar as práticas supersticiosas, consistentes no culto dos demônios, ou outros maus atos que são as práticas pecaminosas. - Assim, pois, pela instituição dos sacramentos o homem e ensinado por meio do sensível de conformidade com a sua natureza; humilha-se, reconhecendo-se sujeito às coisas materiais, pois acha nelas um auxílio; e também fica preservado de más ações pela prática salutar dos sacramentos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O exercício corporal, como tal, de pouco proveito é. Mas o exercício pelo uso dos sacramentos não é puramente corporal senão, de certo modo, espiritual, isto é, pela significação e pela causalidade.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A graça de Deus é causa suficiente da salvação humana. Mas Deus dá a graça aos homens segundo o modo que lhes é peculiar. Por isso os sacramentos são necessários aos homens para conseguirem a graça.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A Paixão de Cristo é causa suficiente da salvação humana. Mas nem por isso daí se segue que os sacramentos não sejam necessários à salvação humana, pois, obram em virtude da Paixão de Cristo. E a Paixão de Cristo de certo modo se aplica aos homens pelos sacramentos, segundo aquilo do Apóstolo: Todos os que fomos batizados em Jesus Cristo tomos batizados na sua morte.