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Art. 2 — Se todos os anjos são enviados em ministério.

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 (II Sent., dist. X. a. 2; Hebr., Xp. I. lect. VI)
 
O segundo discute-se assim. — Parece que todos os anjos são mandados em ministério.
 
1. — Pois, diz o Apóstolo: Todos esses espíritos são uns administradores, enviados para exercer o seu ministério.
 
2. Demais. — Entre as ordens a suprema é a dos Serafins, como resulta do que já foi dito. Ora, um Serafim foi enviado para purificar os lábios do Profeta, como se lê em Isaias. Logo, com maior razão, os anjos inferiores são enviados.
 
3. Demais. — As divinas Pessoas excedem infinitamente todas as ordens dos anjos. Ora, Elas são enviadas, como antes se disse: Logo, com maior razão, qualquer dos anjos supremos.
 
4. Demais. — Se os anjos superiores não são enviados para ministério exterior, tal não é senão porque executam os ministérios divinos, pelos inferiores. Ora, como todos os anjos são desiguais, conforme já se estabeleceu, qualquer anjo, exceto o último, se serve do inferior. Logo, só o último é o enviado em ministério, o que vai contra a Escritura que diz: Um milhão o serviam. Mas, em contrário, diz Gregório, referente à sentença de Dionísio: As ordens superiores de nenhum modo exercem o ministério exterior.
 
Solução. — Como do sobredito resulta, é ordem da divina providência, não só quanto aos anjos, mas quanto a todo o universo, que os seres inferiores sejam governados pelos superiores. Mas para a manifestação da graça, que é de ordem mais alta, o princípio agora referido sofre transgressão, por dispensa divina, quanto aos seres corpóreos. Assim, Deus iluminou o cego e ressuscitou Lázaro, imediatamente, sem a ação dos corpos celestes. Mas, também os anjos bons e maus podem exercer influência nos corpos, fora da ação dos corpos celestes, condensando as nuvens em chuvas, ou cousas semelhantes. Nem deve ninguém duvidar que Deus possa imediatamente revelar certas cousas aos homens, sem a mediação dos anjos; bem como os anjos superiores, sem a mediação dos inferiores. Segundo, pois, esta consideração, alguns disseram que pela lei comum os superiores não são enviados, mas só os inferiores; mas por dispensa divina às vezes também os superiores são enviados. — Mas isto não é racional, porque a ordem angélica é relativa aos dons da graça. Ora, a ordem da graça não deve ser preterida a nenhuma outra ordem, assim como a ordem da natureza lhe é preterida. E deve-se considerar também que a ordem da natureza, na operação dos milagres, é preterida, para a confirmação da fé, para o que nada serviria preterir a ordem angélica, porque nós não poderíamos percebê-lo. Ora, nada há tão grande, nos ministérios divinos, que não possa ser exercido pelas ordens inferiores. Por onde, Gregório diz, que os núncios das cousas mais elevadas chamam-se Arcanjos. E por isso, foi enviado à Virgem Maria o Arcanjo Gabriel, tendo sido esse o mais elevado de todos os ministérios divinos, como no mesmo passo se diz. Por onde, deve-se concluir, absolutamente, com Dionísio, que os anjos superiores nunca são enviados para ministério exterior.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — Como, nas Pessoas divinas, uma é a missão visível, relativa à criatura corpórea; outra, invisível, relativa ao afeto espiritual; assim também há uma missão angélica chamada exterior, relativa a algum ministério, referente a seres corpóreos e, para tal missão nem todos os anjos são enviados. Mas há outra missão, interior, relativa aos afetos intelectuais, pela qual um anjo ilumina outro; e assim todos os anjos são enviados. — Ou, de outro modo, deve-se dizer, que no passo citado, o Apóstolo quer provar que Cristo é maior que os anjos, pelos quais foi dada a lei, mostrando assim a excelência da lei nova sobre a antiga. Donde deve-se necessariamente compreender esse passo como referente só aos ministérios do anjo, pelos quais foi dada a lei.
 
Resposta à segunda. — Segundo Dionísio, o anjo mandado para purificar os lábios do profeta era dos inferiores; mas foi chamado Serafim, isto é, que incendeia, equivocamente por ter vindo incendiar os lábios do profeta. — Ou se deve dizer, que os anjos superiores comunicam os dons próprios, pelos quais são denominados, mediante os anjos inferiores. Assim, diz-se que um Serafim purificou, incendiando, os lábios do profeta; não que o fizesse imediatamente, mas que, pela sua virtude, o fez por meio de um anjo inferior. Assim como se diz que o Papa absolve alguém, mesmo que dê a absolvição por ofício de outrem.
 
Resposta à terceira. — As Pessoas divinas não são enviadas em ministério; mas, diz-se que o são, equivocamente, como resulta do que se estabeleceu antes.
 
Resposta à quarta. — Há muitos graus nos ministérios divinos. Donde, nada impede que mesmo anjos desiguais sejam enviados imediatamente para esses ministérios; de modo porém que os superiores sejam enviados para os ministérios mais altos, e os inferiores, para os inferiores.

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