O segundo discute-se assim. — Parece que nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
1. Pois, todas as criaturas sensíveis são sinais de coisas sagradas, segundo aquilo do Apóstolo: As causas invisíveis de Deus se vêem consideradas pelas obras que foram feitas. Mas nem por isso todas as causas sensíveis podem chamar-se sacramentos. Logo, nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
2. Demais. — Tudo o que se fazia na lei antiga figurava a Cristo, que é O Santo dos santos, segundo aquilo do Apóstolo: Todas estas coisas lhes aconteciam a eles em figuras. E noutro lugar: Que são sombras das causas vindouras, mas o corpo é em Cristo. Ora, nem todos os efeitos dos Patriarcas do Antigo Testamento e nem todas as cerimônias da lei são sacramentos, mas só certas em especial, como se disse na segunda Parte. Logo, parece que nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
3. Demais. — Também ao regime do Novo Testamento muitos atos se praticam como sinal de uma coisa sagrada, que contudo não se chamam sacramentos; tal a aspersão da água benta, a consagração do altar e outras semelhantes. Logo, parece que nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
Mas, em contrário, a definição se converte com a causa definida. Ora certos definem o sacramento dizendo que é o sinal de uma coisa sagrada; e isso resulta também do lugar de Agostinho supra citado. Logo parece que todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
SOLUÇÃO. — Os homens se servem de sinais para, por meio do conhecido, chegar ao desconhecido. Por onde, propriamente se chama sacramento ao sinal de uma coisa sagrada concernente aos homens; isto é, propriamente se chamará sacramento, no sentido em que agora o vejamos, o sinal de uma coisa sagrada enquanto santificadora dos homens.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. As criaturas sensíveis significam algo de sagrado, isto é, a sabedoria e a bondade divinas, enquanto estas são em si mesmas sagradas; mas não enquanto nós nos santifiquemos por meio delas. Por onde, não podem chamar-se sacramentos, no sentido em que agora tratamos dos sacramentos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Certas cerimônias do Antigo Testamento significavam a santidade de Cristo, enquanto ele em si mesmo é santo. Outras porem lhe significavam a santidade, enquanto por meio delas nós nos santificamos; assim, a imolação do cordeiro pascal significava a imolação de Cristo, pela qual fomos santificados. E essas cerimônias propriamente se chamam sacramentos da lei antiga.
RESPOSTA À TERCEIRA. — As coisas se denominam pelo seu fim e pelo seu complemento. Ora, a disposição não é fim nem perfeição. Logo o que significa a disposição para a santidade não se chama sacramento, no sentido em que se funda a objeção. Mas o que significa a perfeição da santidade humana.