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1. A Revelação e a Tradição divina

Ao iniciar um estudo da doutrina católica, é preciso, antes de tudo, saber de onde nos vem esta doutrina. Se nossa adesão à Religião Católica deve ser total, irrestrita e amorosa, é preciso que haja na própria Igreja as garantias necessárias para esta adesão tão definitiva. Em outras palavras, só poderemos dar nosso assentimento de fé às verdades católicas quando compreendermos que não se trata de verdades inventadas pelos homens, mas reveladas por Deus.
 
Essa é a primeira noção importante a conhecer: a Revelação.
 
Ao criar os homens, em Adão e Eva, Deus formou a natureza humana com certas características próprias, que se encontram em todos os homens. Uma dessas características é o sentimento religioso, natural, horizontal, que nos leva a praticar, de algum modo, um culto a Deus. Assim vemos, desde o início da humanidade, sacrifícios oferecidos, como o de Caim e Abel, como o de Noé, e  de Abraão.
 
Se é verdade que o povo eleito se forma a partir de Abraão, segundo a promessa feita por Deus a ele, é com Moisés que se estabelece, por revelação divina, uma religião revelada, ensinada e exigida por Deus a seu povo. Já não mais natural e horizontal, mas vertical, divina, vinda de Deus para nós e não apenas de nós para Deus.

Esta Revelação vai dar ao culto um valor novo, que não existia quando este culto era movido apenas pelo sentimento natural de religião. A partir daí, Deus vai exigir do seu povo a realização do culto como ele determinou e vai condenar vigorosamente toda idolatria.

Mais tarde, ao recusar o Messias e crucificá-lo, os judeus rompem com a Revelação, revoltam-se contra Deus e perdem o valor sobrenatural e divino de sua religião. É a Igreja Católica que recebe de Jesus a autoridade para continuar a Revelação.
 
Revelação pública
 
Deus falou – o que ele diz só pode ser a Verdade por excelência. Ele não pode errar e não pode nos enganar. O que Deus disse forma o conjunto objetivo de verdades reveladas. É chamada de Revelação pública aquela que foi entregue por Deus aos homens, dando-lhes autoridade para falar em seu nome, através de uma instituição fundada para este fim. Temos assim:

-         Revelação pública particular – é o Antigo Testamento, porque restringia-se ao povo eleito.

-         Revelação pública universal – é o Novo Testamento, porque ensinada para todos os homens pela Igreja.
 
O ato de Revelação termina com a morte do último Apóstolo. Aos Apóstolos foi entregue, por Jesus Cristo, o depósito Sagrado, para que eles, com sua autoridade divina, pregassem a todos os povos, até os confins da terra. São diversas as passagens dos Evangelhos em que Jesus manifesta esta autoridade da Igreja:

“Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura. O que crer e for batizado será salvo, o que porém não crer, será condenado”. (S. Marcos, 16,16)
“Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja”. (S. Mateus, 16, 18)
 
Cabe, então, à Igreja Católica, o papel de guardar, pregar e explicitar a verdade revelada.
 
Este trabalho da Igreja se faz mediante as declarações autorizadas da Igreja. É a isso que se dá o nome de “dogma”.

Dogma é toda verdade revelada por Deus na medida em que ela é proposta pela Igreja para ser crida. E se é verdade que o Depósito da Revelação completa-se com a morte do último Apóstolo, já as explicações, desenvolvimentos e explicitações do que está contido na revelação, continua, sob a autoridade da Igreja e com a assistência do Divino Espírito Santo.

Assim, por exemplo, o dogma da “transubstanciação”. A Igreja, mediante uma palavra revelada por Deus, chega a uma conclusão teológica que, por ser essencialmente unida à revelação, é declarada pela Igreja como dogma de fé. Se fosse possível que a substância do pão não se transformasse na substância do Corpo de Cristo, estaria negada a divindade da Revelação. A nossa adesão ao dogma é, então, a mesma da adesão à Revelação.  Seria um pecado grave contra a fé negar um dogma católico, pois estaríamos negando a própria palavra revelada por Deus.
 
As Duas Fontes da Revelação – Tradição Divina e Sagrada Escritura
 
Chamamos de Fonte da Revelação o lugar onde se recolhe, sem possibilidade de erro, a Revelação divina.
 
- A Tradição divina é a fonte Primária da Revelação.
 
- A Sagrada Escritura ou Bíblia é a fonte secundária da Revelação.
 
Tradição = algo transmitido por Deus.
 
A Divina Tradição é fonte da Revelação porque por ela se conserva e é transmitida pela Igreja, desde os Apóstolos, as verdades e as coisas ensinadas por Deus. Assim, nela está contida a palavra de Deus transmitida.
 
Ela é chamada fonte primária porque, antes de mais nada e por si só, foi ordenado por Nosso Senhor que fosse transmitida e conservada pela pregação oral.
 
“Ide, pregai este Evangelho”.
 
“Vos transmiti o que recebi... vos preguei o que recebestes para que não acrediteis em vão... Tal a nossa pregação tal a vossa fé”. (ICor., 15)
A conservação da Divina Tradição só podia ser garantida por Deus, pois aquele que a constitui também a conserva.
 
Em que consiste a Tradição:
 
Ela engloba verdades:

-        explicitamente presentes nas Sagradas Escrituras – ex. a divindade de Cristo

-        implicitamente presente nas Sagradas Escrituras – ex. a assunção de Nossa Senhora.

-        não presentes nas Sagradas Escrituras – ex. forma e matéria de alguns sacramentos.
 
Em que não consiste a Tradição:
 
-        não é a Tradição apostólica – verdades oriundas dos apóstolos. Ex. certos ritos secundários
 

-        não é a Tradição eclesiástica – verdades oriundas da pregação da Igreja. Ex. o hábito eclesiástico.
 
 
Devemos constatar a existência de uma Tradição divina, doutrinária e moral, revelada aos homens de modo certo e infalível, por modo de pregação, que sob a responsabilidade de instituições fundadas por Cristo, a Igreja e seu magistério hierárquico, sempre foi transmitida e confirmada, formando um conjunto de documentos dos Apóstolos, dos Papa, dos Concílios, ou ainda, em grau menor, dos Santos Doutores, teólogos, artistas e escritores. Este Depósito Sagrado é garantia da nossa fé e sempre se manteve intacto, até que sofreu os mais rudes ataques, pelos inimigos da Igreja, no Concílio Vaticano II (1962-1965).

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