(III Cont. Gent., cap. LXXXI; De Verit., q. II, a. 3; De Malo, q. 16, a. 12; Quodl IX, q. 4, a. 5).
O primeiro discute-se assim. — Parece que o anjo não pode iluminar o homem.
1. — Pois, o homem é iluminado pela fé; por isso Dionísio atribui a iluminação ao batismo, que é o sacramento da fé. Ora, esta imediatamente vem de Deus, conforme a Escritura (Ef 2, 8): É pela graça que fostes salvos, mediante a fé, é isto não vem de vós, porque é um dom de Deus. Logo, o homem não é iluminado pelo anjo, mas, imediatamente, por Deus.
2. Demais. — A propósito do passo da Escritura (Rm 1, 19) — Deus lho manifestou — diz a Glossa: não só por meio da razão natural foram manifestadas as coisas divinas aos homens, mas também Deus lhes fez revelações, por meio das suas obras, i. é, por meio da criatura. Ora, tanto a razão natural, como a criatura, procedem imediatamente de Deus. Logo, Deus ilumina o homem imediatamente.
3. Demais. — Quem é iluminado conhece a sua iluminação. Ora, os homens não têm consciência de serem iluminados pelos anjos. Logo, não são iluminados por eles.
Mas, em contrário, Dionísio prova, que as revelações das coisas divinas chegam aos homens, mediante os anjos. Ora, tais revelações são iluminações, como já se disse (q. 106, a. 1; q. 107, a. 2). Logo, os homens são iluminados pelos anjos.
Solução. — Como esta na ordem da divina providência, que os seres inferiores estejam submetidos às ações dos superiores, conforme já se disse (q. 109, a. 2; q. 110, a. 1), em relação aos anjos inferiores, iluminados pelos superiores; assim também os homens, inferiores aos anjos, são por estes iluminados. Mas o modo dessas iluminações é, em parte, semelhante e, em parte, diverso. Pois, como se disse (q. 106, a. 1), a iluminação, que é a manifestação da divina verdade, é considerada a dupla luz: enquanto o intelecto inferior é reforçado pela ação do superior; e enquanto são propostas ao intelecto inferior as espécies inteligíveis do superior, para que possam ser apreendidas por aquele. E isto nos anjos se faz quando o anjo superior divide com o inferior, segundo a capacidade deste, a verdade universal concebida, como já se disse (Ibid). Mas o intelecto humano não pode apreender a verdade inteligível, em si mesma, por que lhe é conatural inteligir voltando-se para os fantasmas, conforme já ficou estabelecido (q. 84, a. 7). E por isso os anjos propõem aos homens a verdade inteligível, debaixo de semelhanças sensíveis, conforme ensina Dionísio, dizendo que é impossível chegue até nós a luz dos raios divinos, sem que seja circunvelada pela variedade dos sagrados véus. Mas por outro lado, o intelecto humano, como inferior, é fortificado pela ação do intelecto angélico. E nestes dois pontos de vista é que se considera a iluminação que o homem recebe do anjo.
Donde a resposta à primeira objeção. — Duas coisas levam ao fim. — A primeira é o hábito do intelecto que o dispõe a obedecer à vontade, que tende para a divina verdade; pois, o intelecto assente à verdade da fé não como convencido pela razão, mas como obrigado pela vontade; pois, conforme Agostinho, só crê quem quer. E, a esta luz a fé vem só de Deus. — Em segundo lugar, para haver fé é necessário que as coisas que se devem crer sejam propostas ao crente. E isto se opera por meio do homem, enquanto que a fé é pelo ouvido, conforme diz a Escritura (Rm 10, 17); mas, principalmente, por meio dos anjos, pelos quais são reveladas aos homens as coisas divinas. E portanto, os anjos contribuem em alguma coisa, para a iluminação da fé. — E contudo os homens são iluminados por eles, não só quanto ao que devem crer, mas também quanto ao que devem fazer.
Resposta à segunda. — A razão natural, procedente de Deus, imediatamente, pode ser reforçada pelo anjo, como já se disse. E, semelhantemente, pelas espécies recebidas das criaturas, tanto mais alto se elevará à verdade inteligível, quanto mais forte for o intelecto humano. E assim o homem é auxiliado pelo anjo, para que, partindo das criaturas, chegue a um conhecimento divino mais perfeito.
Resposta à terceira. — A operação intelectual e a iluminação podem ser consideradas de duplo modo. De um, em relação à coisa inteligida, assim quem intelige ou é iluminado tem de ambas estas coisas consciência, porque conhece que algo lhe é manifestado. De outro modo, em relação ao princípio, e assim quem intelige qualquer verdade nem por isso sabe o que seja intelecto, princípio da operação intelectual. E semelhantemente, quem é iluminado pelo anjo nem por isso se conhece como iluminado.