(II Sent., dist. XI, part. II, a. 6; IV, dist. XLVII, q. 1, a. 2)
O sétimo discute-se assim. — Parece que as ordens não permanecerão depois do dia do juízo.
1. — Pois, diz o Apóstolo, que Cristo destruirá todo o Principado, e Potestade, quando tiver entregado o reino a Deus e ao Padre, e isso há de ser na consumação última. Logo, por igual razão, nesse estado, todas as outras ordens serão suprimidas.
2. Demais. — É função das ordens angélicas purificar, iluminar e aperfeiçoar. Ora, depois do dia do juízo, nenhum anjo purificará, iluminará ou aperfeiçoará outro, porque não mais têm que progredir na ciência. Logo, será inútil permanecerem as ordens angélicas.
3. Demais. — O Apóstolo diz, dos anjos, que todos esses espíritos são uns ministros, enviados para exercer o seu ministério a favor daqueles que hão de receber a herança de salvação; por onde é patente que as funções dos anjos se ordenam a conduzir os homens à salvação. Ora, todos os eleitos, até o dia do juízo, hão de conseguir a salvação. Logo, depois do dia do juízo, não permanecerão as funções e as ordens dos anjos.
Mas, em contrário, diz a Escritura: as estrelas, permanecendo na sua ordem e no seu curso o que é explicado como referente aos anjos. Logo, estes sempre permanecerão nas suas funções.
Solução. — Nas ordens angélicas, duas causas se podem considerar: a distinção dos graus e o exercício das funções. — A distinção dos graus nos anjos, se funda na diferença da natureza e da graça, como já se disse; e ambas essas diferenças permanecerão sempre neles. Pois, não podem ser privados das diferenças das naturezas, a não ser desaparecendo eles. E a diferença da glória sempre neles existirá, fundada na diferença do mérito precedente. — Quanto ao exercício das funções angélicas, esse, depois do dia do juízo, permanecerá de certo modo e, de outro, cessará. Cessará, quanto à condução de certos homens ao fim; permanecerá, porém, no que diz respeito à consecução última do fim. Assim, umas são as funções das ordens militares, na luta, e, outras, no triunfo.
Donde a resposta à primeira objeção. — Os Principados e as Potestades deixarão de existir, na referida consumação final, no atinente à condução dos fiéis ao fim; pois, conseguido este, já não é necessário tender para ele. E esta razão se deduz das palavras do Apóstolo: Quando tiver entregado o reino a Deus e ao Padre, i. é, quando levar os fiéis à fruição mesma de Deus.
Resposta à segunda. — As ações de uns anjos sobre outros devem-se considerar relativamente à semelhança dos nossos atos inteligíveis. Ora, há em nós muitos atos inteligíveis ordenados pela ordem da causa em relação ao causado; assim, quando por muitos meios chegamos gradualmente a uma conclusão. Ora, é manifesto que o conhecimento da conclusão depende de todos os meios precedentes, não só quanto à aquisição de nova ciência, mas também quanto à conservação desta. E a prova é que, se a alguém esquecer algum dos meios precedentes, poderá ter opinião ou fé, quanto à conclusão, mas não ciência, desde que é ignorada a ordem das causas. E portanto, como os anjos inferiores conhecem as razões das obras divinas pela luz dos superiores, desta luz depende o conhecimento deles, não só quanto à aquisição da nova ciência, mas também quanto à conservação desta. Por onde, embora depois do juízo, os anjos inferiores não mais progridam em nenhum conhecimento, contudo nem por isso deles se exclui a iluminação dos superiores.
Resposta à terceira. — Embora depois do dia do juízo, os homens não precisem mais ser levados à salvação pelo ministério dos anjos, contudo, aqueles que já o conseguiram terão alguma iluminação por ofício deles.