Quinta-feira depois do I domingo da Quaresma
Cristo foi crucificado entre os ladrões, por uma razão se considerarmos a intenção dos judeus, e por outra, considerada a ordem de Deus.
1. Quanto à intenção dos judeus, crucificaram aos lados de Cristo dois ladrões, como adverte Crisóstomo, «para que ele participasse da ignomínia deles. Contudo, àqueles ninguém se refere, ao passo que a cruz de Cristo é honrada em toda parte. Os reis, depondo os seus diademas, assumem a cruz: no meio dos diademas, das armas, da mesa sagrada, em toda a parte do mundo a cruz resplandece.»
Quanto à ordenação de Deus, Cristo foi crucificado entre ladrões, porque, segundo diz Jerônimo, «assim como Cristo foi feito na cruz maldição por nós, assim, foi crucificado como criminoso entre criminosos, para a salvação de todos».
2. Segundo, como diz Leão Papa, «dois ladrões foram crucificados, um ao lado direito e outro ao lado esquerdo de Cristo, a fim de que nesse espetáculo mesmo do patíbulo se espelhasse aquela separação que ele próprio há de fazer quando vier a julgar os homens». E Agostinho diz: «Se bem refletires verás, que essa cruz foi um tribunal. O juiz está posto no meio; o que acreditou foi salvo; o outro, que insultou, foi condenado. Por onde se vê o que Cristo fará um dia, dos vivos e dos mortos, colocando aqueles à sua direita e os outros, à esquerda.»
3. Terceiro, segundo Hilário, porque «os dois ladrões crucificados -- um, à direita, o outro à esquerda, mostram que toda a diversidade do gênero humano é chamada a participar do mistério da Paixão de Cristo. Mas como a divisão entre fiéis e infiéis é correspondente aos lados direito e esquerdo, um dos dois, o colocado à direita, foi salvo pela justificação da fé.»
4. Quarto, porque, como diz Beda, «os ladrões crucificados com o Senhor, simbolizam aqueles que, sob a fé e a confissão de Cristo, sofrem a agonia do martírio, ou vivem sob as regras de uma disciplina mais austera. E os que trabalham para a glória eterna são figurados pelo ladrão da direita; ao passo que os de olhos postos na glória humana imitam os atos do ladrão da esquerda.»
III, q. XLVI, a. 11
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)