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Art. 2 — Se a lei eterna é conhecida de todos.

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(Supra, q. 19, a. 4, ad 3; In Iob, cap. XI, lect. I).
 
O segundo discute-se assim. — Parece que a lei eterna não é conhecida de todos.
 
1. — Pois, como diz o Apóstolo (1 Co 2, 11), as coisas de Deus ninguém as conhece senão o Espírito de Deus. Ora, a lei eterna é uma razão existente na mente divina. Logo, é desconhecida de todos, menos de Deus.
 
2. Demais. — Como diz Agostinho, pela lei eterna é justo que todas as coisas sejam ordenadíssimas. Ora, nem todos sabem como todas as coisas são ordenadissímas. Logo, nem todos conhecem a lei eterna.
 
3. Demais. — Agostinho diz: A lei eterna é a de que os homens não podem julgar. Ora, no dizer de Aristóteles, cada qual julga bem aquilo que conhece. Logo, a lei eterna de nós não é co­nhecida.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho: O conhe­cimento da lei eterna está impresso em nós.
 
Solução. — De dois modos pode um objeto ser conhecido: em si mesmo; e no seu efeito, onde se encontra alguma semelhança dele. Assim, quem não vê o sol na sua substância conhece-o pela irradiação. Por onde, deve-se dizer que a lei eterna ninguém pode conhecê-la como em si mesma é, senão só os bem-aventurados, que vêem a Deus em essência. Mas toda criatura racional a conhece por alguma maior ou menor irradiação dela. Pois, todo conhecimento da verdade é uma certa irradiação e participação da lei eterna, que é a verdade imutável, como diz Agostinho. Ora, a verdade todos de certo modo a conhecem, pelo menos quanto aos prin­cípios comuns da lei natural. Quanto aos outros, uns participam mais e outros, menos do conhe­cimento da verdade; e assim também conhecem mais ou menos a lei eterna.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — As coisas de Deus não podem, em si mesmas, ser conhecidas de nós, mas se manifestam pelos seus efeitos, conforme àquilo da Escritura (Rm 1, 20): As coisas invisíveis de Deus se vêem, consideradas pelas obras que foram feitas.
 
Resposta à segunda. — Embora cada um conheça a lei eterna segundo a sua capacidade, do modo por que acabamos de dizer, ninguém contudo pode compreendê-la, porque ela não pode manifestar-se totalmente pelos seus efeitos. Por onde, não é necessário, que quem conhece a lei eterna, da maneira predita, conheça toda a ordem das coisas, pela qual todas elas são orde­nadíssimas.
 
Resposta à terceira. — O julgar das coisas pode ser entendido em duplo sentido. — De um modo, como a faculdade cognitiva julga do seu objeto próprio, conforme àquilo da Escri­tura (Jó 12, 11): Porventura o ouvido não julga das palavras e o paladar de quem come não julga do sabor? E conforme a este modo de julgar, o Filósofo diz que cada qual julga bem aquilo que conhece, i. é, julgando se o que lhe é proposto é verdade. — De outro modo, como o superior julga do inferior, por um juízo prático, i. é, se deve ser de tal maneira e não de tal outra. E assim, ninguém pode julgar da lei eterna.

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