(Supra, q. 57. a. 2. ad 2 ; VI Ethic., lect. VI).
O quinto discute-se assim. — Parece que a sabedoria não é a maior das virtudes intelectuais.
1. — Pois, quem dirige é maior que o dirigido. Ora, parece que a prudência impera sobre a sabedoria como diz o Filósofo: esta, i. é, a política, relativa à prudência, segundo ficou dito, esta preordena quais as artes que devem existir no Estado, e quais e até que ponto cada um as deve estudar. Ora, como a sabedoria também faz parte da ciência, resulta que a prudência é maior que ela.
2. Demais. — É da essência da virtude ordenar o homem à felicidade, pois, ela é a disposição do que é perfeito para o que é ótimo, como se disse. Ora, a prudência é a razão reta dos atos, pelos quais alcançamos a felicidade; ora, a sabedoria não considera esses atos. Logo, a prudência é maior que ela.
3. Demais. — Tanto mais perfeito, tanto maior é o conhecimento. Ora, podemos ter um conhecimento mais perfeito das coisas humanas, com as quais se ocupa a ciência, do que das divinas, objeto da sabedoria, como diz Agostinho; porque as coisas divinas são incompreensíveis, conforme aquilo da Escritura (Jó 36, 26): Com efeito, Deus é grande, que sobreexcede a nossa ciência. Logo a ciência é maior virtude que a sabedoria.
4. Demais. — O conhecimento dos princípios é mais digno que o das conclusões. Ora, a sabedoria, como as outras ciências, conclui partindo de princípios indemonstráveis, objeto do intelecto. Logo, o intelecto é maior virtude que a sabedoria.
Mas, em contrário, o Filósofo diz, que a sabedoria é como a cabeça das virtudes intelectuais.
Solução. — Como já dissemos, a grandeza específica de uma virtude depende do seu objeto. Ora; o objeto da sabedoria tem precedência sobre os objetos de todas as virtudes intelectuais, pois, é Deus, causa altíssima, como já dissemos. E como pela causa julgamos do efeito, e pela causa superior, das inferiores, à sabedoria cabe julgar de todas as outras virtudes intelectuais e ordená-las a todas, e é quase arquitetônica em relação a todas.
Donde a resposta à primeira objeção. — Versando a prudência sobre as coisas humanas e a sabedoria, sobre a causa altíssima, é impossível seja a prudência maior virtude que a sabedoria, a menos que, como se disse, o homem fosse o que há de maior no mundo. Por onde, devemos concluir, conforme também já está dito que a prudência não governa a sabedoria, mas ao inverso, pois, como diz a Escritura (1 Cor 2, 15), o espiritual julga todas as coisas, e ele não é julgado de ninguém. Assim, a prudência não deve se ocupar com as coisas altíssimas, que a sabedoria considera, mas dirige aquilo que se ordena à sabedoria, i. é, se ocupa com o modo pelo qual os homens devem chegar à sabedoria. E por aí a prudência ou política é ministra da sabedoria, pois conduz a ela, preparando-lhe a via, como o ostiário ao rei.
Resposta à segunda. — A prudência considera os meios pelos quais chegamos à felicidade, ao passo que a sabedoria considera o objeto mesmo da felicidade que é o inteligível altíssimo. Ora, se a sabedoria fosse perfeita no considerar o seu objeto, nesse ato consistiria a felicidade perfeita. Mas, como o ato da sabedoria nesta vida é imperfeito, em relação ao seu principal objeto que é Deus, esse ato é uma como incoação ou participação da felicidade futura. E portanto, está mais próxima da felicidade que a prudência.
Resposta à terceira. — Como diz o Filósofo, um conhecimento é superior a outro, ou porque tem um objeto mais nobre, ou pela sua certeza. Se porém os objetos fossem iguais em bondade e nobreza, a virtude mais certa será a maior. Mas a menos certa porém, com objetos mais altos e mais importantes, é superior a mais certa, mas que tem por objeto coisas inferiores. Por isso o Filósofo diz que é grande coisa poder conhecer algo sobre as coisas celestes, mesmo por uma razão débil e local. E, noutro lugar, Aristóteles diz, que é preferível conhecer um pouco dos seres mais nobres, que conhecer muito de seres inferiores. Por onde, a sabedoria, cujo objeto é o conhecimento de Deus, o homem, no estado da vida presente, não pode alcançá-la perfeitamente, de modo a ter-lhe a posse, o que só é próprio de Deus, como se disse. Porém, mesmo esse pequeno conhecimento, que, pela sabedoria, podemos ter de Deus, é preferível a qualquer outro.
Resposta à quarta. — A verdade e o conhecimento dos princípios indemonstráveis depende da natureza dos termos. Assim, quem souber o que é o todo e o que é a parte, imediatamente compreenderá que o todo é maior que a parte. Ora, conhecer em que consiste o ente e o não-ente, o todo e a parte, e tudo o mais que resulta do ser e de que se constituem como termos; os princípios indemonstráveis, isso pertence à sabedoria. Pois, o ser comum é efeito próprio da causa altíssima, i. é, Deus. E portanto, a sabedoria não só se serve dos princípios indemonstráveis, que é o objeto do intelecto, para por eles chegar a conclusões, como o fazem também as outras ciências, mas também os julga e disputa contra os que os negam. Donde se conclui que a sabedoria é maior virtude que o intelecto.