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Art. 3 — Se as virtudes morais têm preeminência sobre as intelectuais.

(IIª. lIae, q. 23, a. 6. ad 1 ; IV Sent., dist. XXXIII, q. 3, a. 3).
 
O terceiro discute-se assim. — Parece que as virtudes morais têm preeminência sobre as intelectuais.
 
1. — Pois, o que é mais necessário e mais permanente é melhor. Ora, as virtudes morais são mais permanentes mesmo que as ciências, que são virtudes intelectuais; logo, também são mais necessárias à vida humana. Logo, têm preeminência sobre as virtudes intelectuais.
 
2. Demais. — A virtude, por essência, torna bom quem a possui. Ora, as virtudes morais é que tornam o homem bom, não porém as intelectuais, a não ser talvez a prudência, unicamente. Logo, as virtudes morais são melhores que as intelectuais.
 
3. Demais. — O fim é mais nobre que os meios. Mas, como se disse, a virtude moral torna reta a intenção do fim, ao passo que a prudência torna reta a eleição dos meios1. Logo, a virtude moral é mais nobre que a prudência, virtude intelectual que versa sobre a moralidade.
 
Mas, em contrário. — A virtude moral reside em a nossa parte racional por participação, ao passo que a intelectual, por essência, como se disse2. Ora, o racional por essência é mais nobre que o racional por participação. Logo, as virtudes intelectuais são mais nobres que as morais.
 
SOLUÇÃO. — Em dois sentidos podemos compreender uma coisa como maior que outra: absoluta e relativamente. Ora, nada impede que o melhor absolutamente não o seja, relativamente; assim, embora filosofar seja melhor que enriquecer, não o é contudo para quem sofre necessidades. A consideração absoluta se funda na essência específica. Ora, como a virtude se especifica pelo seu objeto, segundo já dissemos3, mais nobre, absolutamente falando, é a que tem um objeto mais nobre. Ora, é manifesto que o objeto da razão é mais nobre que o do apetite; pois, ao passo que aquela apreende o universal, este tende para as coisas enquanto particulares. Por onde, absolutamente falando, as virtudes intelectuais, que aperfeiçoam a razão, são mais nobres que as morais, que aperfeiçoam o apetite. Se porem considerarmos a virtude relativamente ao ato, a moral, que aperfeiçoa o apetite, o qual atualiza as outras potências, como já dissemos4, é mais nobre. E como se chama virtude àquilo que, sendo perfeição da potência, é princípio de um ato, essa denominação convém, por essência, mais às virtudes morais que às intelectuais, embora estas constituam, absolutamente falando, hábitos mais nobres.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — As virtudes morais são mais duradouras que as intelectuais por se exercerem relativamente à vida comum. Mas é manifesto que os objetos das ciências, que são necessárias e têm sempre o mesmo modo de existir, são mais permanentes que os das virtudes morais, que são atos particulares. E o serem as virtudes morais mais necessárias à vida humana, não prova que sejam, absolutamente, as mais nobres, senão só relativamente. Portanto, as virtudes intelectuais especulativas, por isso mesmo que não se ordenam a outro fim, como o útil, são mais dignas. E isto porque elas causam de certo modo, em nós, uma felicidade incoativa e a felicidade consiste no conhecimento da verdade, como já dissemos5.
 
Resposta à segunda. — As virtudes morais, e não as intelectuais, tornam o homem bom, absolutamente falando, porque o apetite move para o seu ato as outras potências, como já dissemos6. Por onde, isto não prova senão que as virtudes morais são, relativamente, melhores.
 
Resposta à terceira. — A prudência não só dirige as virtudes morais na eleição dos meios, mas também na pre-instituição do fim. Ora, o fim de cada virtude moral é atingir o meio termo, na sua matéria própria, e este é determinado pela razão reta dirigida pela prudência, como se disse7.

  1. 1. VI Ethic., lect. X.
  2. 2. I Ethic. (lect. XX).
  3. 3. Q. 54, a. 2; q. 60, a. 1.
  4. 4. Q. 9, a. 1.
  5. 5. Q. 3, a. 6.
  6. 6. Q. 26, a. 3.
  7. 7. II Ethic. (lect. VII) et VI (lect. XI).
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