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Sermão de D. Alfonso de Galarreta sobre as negociações com Roma, em 3 de junho de 2001

Econe, 3 de junho de 2001
 
Eu queria vos dar meu ponto de vista no que concerne os contatos que temos com Roma. Roma deu uma resposta oficial por escrito onde as duas condições que tínhamos posto foram recusadas. Desde o começo queríamos uma discussão sobre os problemas da fé, sobre a apostasia atual, sobre a doutrina, a teologia... As autoridades romanas quiseram imprimir uma orientação prática aos contatos, puramente prática. Isto não nos interessava mais tanto, porque sabíamos qual seria o resultado. Nesta carta então, o Vaticano põe, de um modo implícito, as condições de sempre, a saber, aceitar o Concílio, aceitar a Missa nova, a nova liturgia. Abreviando: aceitar todas as reformas e desenvolvimentos provenientes do Concílio. Como vocês vêem, volta-se as condições de sempre. O que é evidentemente impossível de aceitar. Eles nos dão e nos tiram: é um passo de caranguejo. Ele propõe nos reconhecer tais como somos, mas proíbe de nos opormos às reformas. Para nós é precisamente uma condição sine qua non. Nós lhes dissemos: já que os senhores querem colocar-se num ponto de vista puramente prático deixando de lado a doutrina, reconheça-nos tais como somos e dêem-nos a liberdade de falar contra todas essas coisas. Eles, por outro lado, põe a mesma condição mas no sentido contrário! Então o problema de fundo ressurgiu! Naturalmente, já esperávamos.

O perigo de crer que Roma nos oferece o que ela não nos oferece
 
É preciso dizer que constatamos que há, em Roma, entre aqueles que se interessam por nós, poderíamos dizer, essencialmente duas tendências diferentes: os que são modernistas especulativos, mais intelectuais, por isso mais lógicos, coerentes, e mais sectários também, e de outro lado, os  modernistas pragmáticos, mais práticos, que são evidentemente mais conservadores pois se adaptam às realidades, e são mais acomodados em relação a nós, mas são também mais falsos, dúbios. Eu falo objetivamente, não das intenções, olho os fatos: como as pessoas são na realidade, independentemente das intenções ou dos desejos. Pois o grande perigo para nós, não é que se vá ceder sobre a doutrina – não há ninguém que esteja querendo ceder na doutrina, isto está fora de questão – mas o problema não está aí, o problema para nós seria tomar o desejo por realidade, crer possível o que é impossível, e então crer que Roma nos oferece o que Roma não nos oferece. Agora isto está claro como o dia, e não há mais dúvida possível, pois eles mesmos vieram impor essas condições. A realidade é o que ela é, nós queríamos que fosse diferente, é claro. É pena, mas é assim.
 
A missa nova imposta à Igreja na prática
 
Em Roma então, há esta tendência modernista mais especulativa e outra mais prática. Ora não se pode esquecer que o modernismo foi imposto a Igreja pelo meio prático. Vejam a Missa nova por exemplo, é um grupo de teólogos e de liturgistas, uma elite, que a concatenou, criou essa missa nova quase do nada, e ninguém queria! Quando Mons.Bugnini apresentou aos bispos sua missa normativa, depois do Concílio, dois anos antes da promulgação da missa nova, a maioria rejeitou; e é, no entanto, a mesma missa que Paulo VI impôs, porque eles tinham suas idéias, eles tinham feito uma liturgia, um culto, em consonância com uma nova teologia, com uma nova religião. Então, para fazer passar essa missa nova, eles agiram praticamente, mesmo se a maior parte dos fiéis, dos padres, dos bispos não quisesse. O modernismo introduziu-se na Igreja por esse meio prático, sem convicção. Só havia uma elite que estava apodrecida. Em outros tempos Crammer agiu do mesmo modo para introduzir o protestantismo na Inglaterra. É uma situação idêntica.
 
Fazer calar a voz da Tradição
 
Eis o que Roma tenta de novo. Ela nos dá tudo, mas é preciso aceitar o Concílio. É como dizer a polícia: vocês podem falar contra o roubo, o crime etc... mas não podem tocar num só ladrão, num só criminoso. Vocês têm que respeitar seus direitos e eles farão o que querem. Também nos dizem: vocês podem brincar de Dom Quixote, ir contra os moinhos de vento, podem perseguir as idéias, abstratamente, mas não toquem na realidade. Não podemos, é um problema de fé, é muito simples. Não é uma questão pessoal, ou de obediência, ou de caridade, nem de disciplina, nem de respeito, nem disso ou daquilo: é um problema de fé. E jamais aceitaremos um acordo prático que tivesse como condição fazer calar a voz da Tradição, a voz da fé católica. Não podemos nada contra a verdade mas devemos defende-la. E se constatamos que nos mandam calar então nossa resposta será negativa. Talvez deixem uma porta aberta para reiterar nossas objeções no domínio doutrinal, no domínio da fé.
 
Dar, em Roma, o testemunho da Verdade
 
Alguns poderiam dizer: não se pode ter contato nenhum. Eu diria: não, ou melhor: isso depende. É uma questão de prudência. De início, é preciso ter os contatos, pois pode ser que Deus dê sua graça  a alguns deles, isso nós não sabemos. Nesse caso, é nosso dever dar testemunho da verdade, e dar motivo de nossa posição e de nossa atitude, e isso em Roma ou em outro lugar, mas, sobretudo, em Roma...
 
 +  Alfonso de Galareta
Ecône, 3 de junho de 2001

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