O quinto discute-se assim. ― Parece que as ações dos outros não nos são causa de prazer.
1. ― Pois, a causa do prazer é um bem próprio que conosco se aduna. Ora, isto não se dá com as ações dos outros. Logo, estas não nos são causa de prazer.
2. Demais. ― Uma ação é um bem próprio do agente. Se pois as ações dos outros são-nos causa de prazer, pela mesma razão hão-de sê-lo todos os demais bens deles, o que é claramente, falso.
3. Demais. ― A ação é deleitável enquanto precedente de um hábito que nos é inato; por isso diz Aristóteles que devemos considerar o prazer de agir como sinal da formação de um hábito. Ora, as ações dos outros não procedem de hábitos nossos, mas às vezes de hábitos dos que agem. Logo, tais ações são deleitáveis, não para nós, mas para aqueles mesmos que agem.
Mas, em contrário, diz a Escritura (II Jo 4): Muito me alegrei por ter achado que alguns de teus filhos andam em verdade.
Solução. ― Como já dissemos, duas condições se requerem para o prazer: a consecução do bem próprio e o conhecimento dessa consecução. Por onde, de três modos a ação de outrem pode ser causa de prazer. ― Primeiro, quando por meio de tal ação conseguimos algum bem. E neste sentido, as ações daqueles que nos fazem bem nos são deleitáveis, pois é agradável receber um bem de outrem. ― Segundo, quando por ação de outrem, chegamos a algum conhecimento ou a alguma apreciação do bem próprio. E por isso, nos deleitamos quando louvados ou honrados pelos outros, pois então entramos na apreciação de que em nós existe um certo bem. E como esta apreciação é mais fortemente produzida pelo testemunho dos bons e dos virtuosos, nós nos deleitamos sobretudo com os louvores deles. E essa é a razão por que, sendo o adulador um lisongeador fingido, as lisonjas são agradáveis a muitos. E ainda, recaindo o amor sobre um determinado bem; e tendo a admiração por objeto algo de grande, ser amado e admirado pelos outros é agradável, porque entramos então a estimar a nossa própria vontade ou grandeza, com o que nos deleitamos. ― Terceiro, porque as ações mesmas dos outros, quando boas, são apreciadas como bem próprio nosso, em virtude do amor, que nos leva a estimar o amigo como a nós mesmos; e por causa do ódio, que nos leva a considerar o bem de outrem como nos sendo contrário, a ação má de um inimigo nos é deleitável. Por onde, diz a Escritura (1 Cor 13, 6): a caridade não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.
Donde a resposta à primeira objeção. ― A operação de outrem pode adunar-se comigo pelo efeito, como no primeiro modo supra-referido; pela apreensão, como no segundo ou, pela afeição, como no terceiro.
Resposta à segunda. ― A objeção procede, relativamente ao terceiro dos modos referidos, não porém aos dois primeiros.
Resposta à terceira. ― As ações dos outros, embora não procedem de hábitos em mim existentes, causam-me contudo algo de deleitável, ou me levam à apreciação ou à apreensão de um hábito próprio, ou procedem de algum hábito de quem se unifica comigo pelo amor.