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Art. 1 ― Se as paixões da alma são moralmente boas ou más.

(II Sent., dist. XXXVI, a . 2; De Malo, q. 10, a . 1, ad 1; q. 12, a . 2, ad 1; a . 3).
 
O primeiro discute-se assim. Parece que nenhuma das paixões da alma é moralmente boa ou má.
 
1. ― Pois, o bem e o mal moral são próprios do homem, conforme diz Ambrósio: os costumes se referem propriamente ao homem1. Ora, as paixões não lhe são próprias, mas lhe são comuns a ele e aos animais. Logo, nenhuma paixão humana é moralmente boa ou má.
 
2. Demais. ― O bem ou o mal do homem é o que é conforme à razão ou a ela contrário, como diz Dionísio2. Ora, as paixões da alma residem, não na razão, mas no apetite sensitivo, como já vimos3. Logo, não dizem respeito ao bem ou mal do homem, i. é, à bondade moral.
 
3. Demais. ― O Filósofo diz que pelas paixões, não somos louvados nem vituperados. Ora, o somos relativamente ao bem e ao mal moral. Logo, as paixões não são boas ou más moralmente.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho, referindo-se às paixões da alma: São más, se o amor é mau, boas, se bom4.
 
Solução. ― As paixões da alma podem considerar-se em dois pontos de vista: em si e enquanto caem sob o império da razão e da vontade. Em si consideradas e como uns movimentos do apetite irracional, não são susceptíveis de bem nem de mal moral, que dependem da razão, como já dissemos5. São porém susceptíveis de bem ou de mal moral, enquanto caem sob o império da razão e da vontade. Pois, o apetite sensitivo depende mais estreitamente da razão e da vontade que os membros exteriores, cujos movimentos entretanto e cujos atos são bons ou maus moralmente na medida em que forem voluntários. Com maior razão, as paixões quando forem voluntárias, podem considerar-se boas ou más moralmente. Ora, consideram-se voluntárias ou por serem governadas ou por não serem sofreadas pela vontade.
 
Donde a resposta à primeira objeção. ― Em si mesmas consideradas, as paixões são comuns aos homens e aos animais; mas, enquanto governadas pela razão, são próprias do homem.
 
Resposta à segunda. ― Também as virtudes inferiores apetitivas chamam-se racionais na medida em que participam, de algum modo, da razão, como diz Aristóteles6.
 
Resposta à terceira. ― Quando o Filósofo diz que não somos louvados nem vituperados por causa das paixões absolutamente consideradas não quer significar não sejam elas dignas de louvor ou vitupério, enquanto governadas pela razão. E por isso acrescenta: Pois não louvamos nem vituperamos quem teme ou se encoleriza, mas sim, quem é possuído dessas paixões, de certo modo, i. é, conforme ou contrariamente à razão.

  1. 1. Super Lucam (Prolog.).
  2. 2. De div. nom., cap. IV, lect. XXII.
  3. 3. Q. 22, a. 3.
  4. 4. XIV De civ. Dei, cap. VII.
  5. 5. Q. 18, a. 5.
  6. 6. I Ethic., lect. XX.
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