(II Sent., dist. XL, a . 4).
O sexto discute-se assim. ― Parece que um mesmo ato pode ser bom e mau.
1. ― Pois, é uno o movimento contínuo, como diz Aristóteles. Ora, o mesmo movimento contínuo pode ser bom e mau; p. ex., se alguém vai à igreja continuamente, antes por vanglória, que para servir a Deus. Logo, o mesmo ato pode ser bom e mau.
2. Demais. ― Segundo o Filósofo, ação e paixão constituem um mesmo ato. Ora aquela pode ser boa, como a de Cristo, e esta, má, como a dos Judeus. Logo, um mesmo ato pode se bom e mau.
3. Demais. ― Sendo o servo quase instrumento do senhor, o ato daquele é ato deste, como o ato do instrumento o é do artífice. Ora, pode dar-se que a ação do servo seja boa, por proceder da vontade boa do senhor, e má, por proceder da sua vontade má. Logo, o mesmo ato pode ser bom e mau.
Mas, em contrário. ― Os contrários não podem coexistir no mesmo sujeito. Ora, o bem e o mal são contrários, Logo, um mesmo ato não pode ser bom e mau.
Solução. ― Nada impede seja uma realidade una, pertencendo a um gênero, e múltipla, pertencendo a outro; assim, a superfície contínua é una, considerada no gênero da quantidade, sendo contudo múltipla, considerada no gênero da cor, se, em parte, for branca e, em parte, negra. E deste modo, nada impede seja um ato uno, referido ao gênero da natureza, e não o seja, referido ao gênero da moralidade; e inversamente, como já se disse. Assim, o andar contínuo, ato uno no gênero da natureza, pode vir a ser múltiplo, no da moralidade, mudada que seja à vontade de quem anda, a qual é o princípio dos atos morais. ― Por onde, considerado no gênero da moralidade, é impossível o mesmo ato ser moralmente bom e mau; pode sê-lo entretanto, se tiver a unidade da natureza e não, a da moralidade.
Donde a resposta à primeira objeção. ― O movimento contínuo procedente de intenções diversas, embora naturalmente uno, não o é moralmente.
Resposta à segunda. ― Ação e paixão pertencem ao gênero da moralidade, na medida em que são voluntárias. Por onde, segundo a diversidade das vontades que os inspiram, constituem moralmente dois atos e, portanto, um pode ser bom e o outro, mau.
Resposta à terceira. ― O ato do servo, enquanto procedente da sua vontade, não é ato do senhor, mas só quando procede da ordem deste, e assim, a má vontade do servo não torna mau o ato do senhor.