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Art. 3 ― Se a bondade da vontade depende da razão.

O terceiro discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende da razão.
 
1. ― Pois, o anterior não depende do posterior. Ora, o bem pertence, antes, à vontade que à razão, como do sobredito resulta1. Logo, o bem da vontade não depende da razão.
 
2. Demais. ― Como diz o Filósofo, a bondade do intelecto prático é a verdade conforme ao apetite reto2. Ora, este é a vontade boa. Logo, a bondade da razão prática depende, mais, daquela da vontade, do que inversamente.
 
3. Demais. ― O motor não depende do que é movido, mas inversamente. Ora, a vontade move a razão e as demais faculdades, como se disse3. Logo, a bondade da vontade não depende da razão.
 
Mas, em contrário, diz Hilário: É imoderada toda pertinácia do querer, quando a vontade não está sujeita a razão4. Ora, a bondade da vontade consiste em não ser imoderada. Logo, depende da razão.
 
Solução. ― Como já se disse5, a bondade da vontade depende propriamente, do objeto, e este lhe é proposto pela razão; pois, o bem conhecido pelo intelecto é o objeto proporcionado à vontade, ao passo que não lhe é proporcionado a ela, mas ao apetite sensitivo, o bem sensível ou imaginário. Pois, enquanto que a vontade pode tender ao bem universal apreendido pela razão, o apetite sensitivo não tende senão para um bem particular, apreendido pela potência sensitiva. Logo, a bondade da vontade depende da razão, do mesmo modo por que depende do objeto.
 
Donde a resposta à primeira objeção. ― O bem sob o aspecto de bem, i. é, de desejável, é objeto antes da vontade que da razão. Porém o é da razão, sob o aspecto de verdadeiro, antes de o ser da vontade sob o de desejável; porque o apetite da vontade não pode tender para o bem se este não for apreendido primeiro pela razão.
 
Resposta à segunda. ― No passo aduzido, o Filósofo se refere ao intelecto prático enquanto delibera e raciocina sobre os meios, e é então aperfeiçoado pela prudência. Ora, no concernente aos meios, a retitude da razão consiste na conformidade como o apetite do fim devido. Este, contudo pressupõe a apreensão reta do fim, pela razão.
 
Resposta à terceira. ― A vontade move de certa maneira a razão, que por sua vez e de algum modo move a vontade para o seu objeto, como já se disse6.

  1. 1. Q. 9 a. 1.
  2. 2. VI Ethic., lect. II.
  3. 3. Q. 9, a. 1.
  4. 4. X De Trin., n. 1.
  5. 5. Q. 19, a. 1, 2.
  6. 6. Q. 9, a. 1.
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